Um ano depois

“A Guarda não pode ficar cativa de diferenças fátuas, precisa de todos para caminhar rumo ao futuro.”

Um ano depois das eleições autárquicas é tempo recordar as mudanças de há 12 meses. Na região, mudaram os executivos de alguns municípios, e mudaram as cores que governavam em Figueira de Castelo Rodrigo, Mêda, e especialmente Manteigas e Guarda, onde listas independentes foram vencedoras – a ousadia e o atrevimento de Flávio Massano e Sérgio Costa foram premiados pelo apoio popular, contra a habitual opção de eleger candidatos apresentados em listas partidárias.
Um ano depois, mesmo considerando que um ano é pouco tempo, podemos facilmente concluir que pouco ou nada mudou. Talvez os novos executivos municipais ainda não tenham tido tempo para fazer mais. Ou talvez esperem pelo terceiro ou quarto ano para mostrarem trabalho… mas as populações anseiam por mais e a realidade da nossa região exige um esforço constante e ideias novas, projetos, capacidade de execução e a implementação de dinâmicas que permitam o desenvolvimento e o acreditar no futuro. As circunstâncias e o contexto nacional e internacional não ajudam, saídos de uma pandemia e a viver uma crise energética e uma inflação sufocante, resistir e procurar soluções que permitam um novo rumo, um novo caminho e uma nova esperança que cumpra as expetativas de quem escolheu viver nestes territórios de baixa densidade, é o que se espera dos novos governos locais.
Um ano depois, na Guarda, ainda não se vislumbram as mudanças prometidas e ambicionadas. Muito para além da gestão corrente, a Guarda precisa de recuperar o tempo perdido e que as muitas promessas dos últimos anos aconteçam (do Governo central ou do executivo camarário): o comando nacional das UEPS, a Unidade de Emergência, Proteção e Socorro da GNR, que tantas vezes foi anunciado para a Guarda com a instalação de mais de 200 oficiais; a implementação do Porto Seco; a construção da alameda da Ti Jaquina; a construção da “variante à Sequeira” (prometida há mais de 20 anos e que em 2018 Sérgio Costa apresentou como uma revolução urbana em S. Miguel que continua adiada); a nova zona da feira (nas traseiras do TMG, no vale de S. Francisco, – a solução provisória de levar a feira para o Polis é válida para dignificar a venda ambulante, mas inaceitável como decisão definitiva pois o Parque Urbano não tem condições sanitárias, não foi feito para isso e os guardenses exigem ter esse território como espaço de lazer…); o multiusos; o hospital particular (cujo contrato Sérgio Costa anulou recentemente); … o centro de competências internacional para a economia e inovação social; o Centro de Educação Rodoviária; a 2ª fase do hospital da Guarda (o Pavilhão 5 está em obras, mas do antigo Sousa Martins nada se sabe); os Passadiços do Mondego; as áreas empresariais nas freguesias; as fábricas de cerveja e outras;… E um ano depois das últimas autárquicas, o Hotel de Turismo, cuja reabertura foi assegurada tantas vezes e uma das bandeiras de todas as campanhas eleitorais na Guarda desde 2010, começou a arder. Um pequeno incêndio que a pronta resposta dos bombeiros evitou a destruição de uma referência do património arquitetónico da cidade, mas o fogo no Hotel veio recordar o estado de abandono a que chegou aquele que foi a referência do desenvolvimento turístico, social e económico da Guarda (Sérgio Costa prometeu que durante o atual mandato o Hotel de Turismo seria reaberto, esperemos que sim, mas para já, e um ano depois de eleito, a única coisa visível no Hotel de Turismo foi o fumo da passada semana).
Um ano de novo executivo (na Guarda) sem oposição – ou uma oposição centrada no conflito pessoal entre Sérgio Costa e o anterior autarca Chaves Monteiro, pouco edificante e nada construtiva para o futuro do concelho. Mas passado o período de expetativas, é exigível que o executivo (que não tem maioria) lidere o concelho com ambição e mais assertividade e a oposição contribua para um debate elevado, com propostas ambiciosas para um novo tempo que é urgente. Com a cultura a definhar e muitos projetos adiados, não basta agradar aos que estão mais próximos, é preciso trabalhar para todos e com todos. A Guarda não pode ficar cativa de diferenças fátuas, precisa de todos para caminhar rumo ao futuro.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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