E de repente um vírus mudou as nossas vidas. Identificado na cidade de Whuan (província de Hubei, na China), o novo coronavírus SARS-CoV-2 provocou as primeiras infeções na Europa em janeiro de 2020. Depois, a pandemia alastrou por todo mundo, de forma apressada, surpreendente, impressionante, tendo originado dezenas de milhões de infetados e mais de um milhão de óbitos. O relativo desconhecimento científico e o ritmo da sua propagação, e as graves consequências na saúde, geraram alarme e medo à escala global. O mundo parou, em pânico, perante a espiral de contágios.
A 2 de março de 2020 foram confirmados em Portugal os dois primeiros casos de infeção pelo novo coronavírus. Desde esse momento até hoje, foram notificados mais de 800 mil casos e o número de mortos em Portugal supera já os 16 mil. O primeiro estado de emergência seria decretado a 18 de março e, de então para cá, nunca mais recuperámos a normalidade.
Um ano!
De repente ficámos encerrados em casa. Vimos as cidades vazias. Deixámos de viajar. Os aviões ficaram em terra. As crianças deixaram de ter onde brincar. As escolas fecharam. A “telescola” regressou e as aulas passaram a ser digitais. Os turistas desapareceram, os hotéis ficaram vazios, só a construção civil e os transportes continuaram a trabalhar “no duro”! Os restaurantes arruinaram-se, entre a “comida para levar” e o fecho por confinamento. Ainda houve vendas ao postigo, mas as lojas de rua fecharam as portas e os centros comerciais também – excetuando os supermercados, os “estabelecimentos indispensáveis”, das farmácias às lojas de ferramentas… Todos ficámos presos à Internet e o trabalho à distância entrou definitivamente nas nossas vidas. Viver nas grandes cidades deixou de fazer sentido, quando podemos trabalhar desde casa no mais recôndito dos locais. Os médicos foram nomeados heróis por exercerem a sua função. Os professores tiveram de voltar a aprender. As fronteiras foram fechadas. E as liberdades foram cerceadas. Houve quem perdesse rendimentos, quem perdesse o emprego, quem perdesse os negócios… Vidas adiadas, sonhos esquecidos, tristeza e pavor nos rostos escondidos por trás de máscaras obrigatórias.
E chegaram as vacinas. Com circo inusitado, políticos engalanados, prioridades absurdas e oportunistas a saltarem a fila para serem vacinados – enquanto os idosos morriam à espera da sua vez (os mais jovens podiam ter esperado, os mais velhos tinham de ter toda a prioridade).
Do “milagre” (o pânico) da primeira fase ao caos de janeiro, do relaxamento natalício ao frio, das presidenciais à ajuda internacional, será que foi feito tudo o que devia ter sido feito? Será que o governo e os diferentes responsáveis, especialistas e corporações souberam liderar o país ou foram a reboque dos acontecimentos? Agora, enquanto vemos uma luz ao fundo do túnel, enquanto confiamos que a vacinação vai acelerar e permitir-nos recuperar “a vida”, já é tempo de começarmos a identificar os que falharam num estado esforçado e que teve a noção da solidariedade, mas chegou sempre atrasado.
Se há um ano alguém dissesse que uma pandemia poderia parar o mundo seria apelidado de louco. E o mais extraordinário é que há um ano ninguém ousaria pensar que poderíamos sobreviver a um ano assim! Mas sobrevivemos! Sobrevivemos à tragédia que foi o pior ano das nossas vidas. A vida já não é o que era; nem vai voltar a ser!