1 – António Costa é um sábio da estratégia política. Mas não obstante tamanha virtude, sempre que a coisa afina o primeiro-ministro usa do dramático “eu ou o caos”. Ou seja, acena com a ameaça de crise política – foi assim na crise dos professores e, já em 2020, no dossier da descida do IVA da eletricidade.
Menos de um ano depois de afastar a reedição da “geringonça” e de pôr de parte a aliança a que o Bloco aspirava para se consolidar como força de poder, considerando que um PS reforçado pelas legislativas só poderia aspirar à governação sem apêndices, Costa sustenta que a crise sanitária criou «excelentes condições» para firmar um acordo de legislatura à esquerda. O PS de Costa quer autonomia para liderar na bonança, mas exige companhia quando se trata de enfrentar a tempestade.
O ultimato chega desta vez a propósito da discussão do Orçamento do Estado para 2021. Depois de aprovar o retificativo com as abstenções de PSD, Bloco e PAN, Costa avisa agora que não negociará com o partido de Rui Rio – o mesmo com que o PS acordou a redução da capacidade de escrutínio do Parlamento ao poder executivo – e que se a aprovação das contas do próximo ano ficar dependente de um acordo com os sociais-democratas, abrirá a prometida crise política.
Como lembrou, e bem, Catarina Martins, coordenadora do BE, este não é o primeiro ultimato sobre uma crise política feito por António Costa e, fazê-lo, «não resolve nada e não mobiliza ninguém». Mas se Costa estende a passadeira à crise política, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa já veio tirar o tapete ao artifício.
Política é a arte de gerir o possível e governar consiste em fazer escolhas. O primeiro-ministro fez as suas e já vai tarde para as revogar, portanto tem de viabilizar o modelo de governação que escolheu por saber poder contar com Rio, mesmo que agora o fantasma do bloco central o leve a com ele não querer contar.
2 – Li n’O INTERIOR que a Câmara de Pinhel concluiu a requalificação da sua escola secundária após um investimento de 2 milhões de euros que a autarquia realizou para atrair também alunos de concelhos vizinhos.
Há cerca de dois anos defendi, nesta coluna, que, mesmo no interior do país, a educação e a saúde devem ser os dois principais vetores de desenvolvimento. Contrapus então esta tese à proliferação, no meu concelho (Trancoso), de investimentos não reprodutivos (quando não saloios), tais como ornamentações nas rotundas.
Fonte camarária argumentou então que os investimentos em escolas públicas cabem ao Ministério da Educação e não são responsabilidade da autarquia. No Facebook, o presidente da Assembleia Municipal recorreu a uma publicação da Escola Profissional de Trancoso que dava conta do aumento do número de alunos nessa instituição para, veladamente, me atacar pela ousadia de criticar as opções do município.
Volvidos dois anos, e coerente com a sua estratégia, o executivo reforçou a aposta nos ornamentos e mantém a escola secundária votada ao esquecimento. Avaliando o robusto equídeo da reformulada rotunda trancosence e a degradação progressiva da secundária local, aliada à respetiva incapacidade para competir por alunos da região, consta-se que continuamos a ir de cavalo para burro.