Turismo e Saúde

Escrito por Santinho Pacheco

Estes 60 dias que abalaram o mundo tiveram no turismo efeitos catastróficos. Da euforia ao desânimo, da confiança ao derrotismo, vai um pequeno passo. Quase nada será como dantes é uma certeza que se sente no setor.
Os impactos económicos e sociais provocados pelo coronavírus são já bem visíveis em todo o mundo. Portugal tem vindo a ocupar uma posição cada vez mais relevante no turismo internacional; em 2019, na União a 28, o nosso país estava colocado nos primeiros dez lugares em dormidas e receitas turísticas, sendo o 12º destino mais competitivo do mundo. Portugal tem no turismo a principal atividade exportadora, quase 20% das exportações em bens e serviços, que emprega centenas de milhares de trabalhadores. Regiões há, como o Algarve e a Madeira, em que a atividade turística tem uma especificidade especial, o que vai implicar medidas integradas de resposta aos impactos da Covid-19.
Ao longo de décadas, turismo significava praia e praia quer dizer mar, litoral. O turismo no interior, no espaço rural, as ofertas culturais e monumentais, o turismo da natureza, eram meramente residuais e quanto muito só tinham algum significado sazonal. A partir dos anos 60, a geração das férias era fundamentalmente a nova classe urbana, originária do Centro Norte, ou do Alentejo que se fixou nas grandes áreas metropolitanas. O interior ainda soava a carência, atraso e falta de qualidade de vida. Ninguém tinha esquecido as suas terras de origem.
Férias eram mar e praia, à moda dos milhões de estrangeiros que procuravam o sol português no Estoril, em Vilamoura ou no litoral alentejano. Quem fazia férias não pensava em interior. Aos poucos, esta visão restritiva na seleção do destino de férias foi-se alterando quer no mercado interno, quer na perspetiva do estrangeiro que valorizava no nosso país uma cultura secular intacta e única no contexto europeu. O interior vivia assim nos últimos anos tempos de euforia na restauração, na hotelaria e no turismo de Natureza.
O Douro é um destino de vanguarda. Mas o Porto/Norte, o Centro e o Alentejo também o são. A Serra da Estrela caminhava com segurança e há sinais de grande dinamismo em muitos concelhos serranos. Manteigas tem já um parque hoteleiro de grande nível e um novo hotel será inaugurado dentro de dias.
Não é um vírus que nos vai vencer! Somos uma região mítica, Estrela, Douro, a Raia e o Côa, as Aldeias Históricas, dois patrimónios da UNESCO, uma gastronomia que sabe a tradição, vinhos e queijos do melhor que há.
O mercado interno dá-nos uma oportunidade única para divulgarmos vastos horizontes, paisagens únicas, praias fluviais com imagem de marca, termalismo, ar puro e áreas protegidas. Sem confusão e sem horas de ponta.
O Turismo de Saúde é agora ou nunca; a Guarda tem nisso história e tradição.
É preciso acreditar e reforçar a atratividade e a promoção dos territórios do interior. A questão das portagens é decisiva. O resto é connosco!

* Deputado do PS na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda e antigo Governador Civil da Guarda

Sobre o autor

Santinho Pacheco

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