Podiam ser piadas, mas são novas realidades.
1- Imaginem que parto o telemóvel e não pago na nuvem a cópia da informação: morri metade no telemóvel. Imaginem que os números do amor e do trabalho estão todos naquele aparelho que, tonto, se despenhou na retrete: afoguei-me na sanita. Morre parte de mim no aparelho que me acrescenta. O negócio é criar custos mensais para me garantir a permanência da informação. São remédios de “memofante” muito mais caros e com laboratórios distantes que nos controlam. Morremos se morre o telemóvel e ficamos despidos se ele não nos veste as memórias.
2- Outro fenómeno contemporâneo é o dos atrevidos que tapam os ouvidos e caminham descontraídos sem perceberem a importância da audição. Como nas orelhas não envergam piscas, como não há sinais de aviso no corpo atiram-se para as passadeiras para lidarem o carro touro que se aproxima. Não os perturba o tombo ou a pancada, vão garantidos pelos seus direitos e cheios das suas certezas. Morrem mais que nunca, mas não sabem que não levam auscultadores e telemóvel no caixão.
3- Outro fenómeno novo é o das trotinetes que pululam as cidades agora. A ausência de reflexão dos libertinos dos direitos foi que agora existem milhares de novos obstáculos para os cegos nos passeios, milhares de novos problemas para a mobilidade de idosos e assim se multiplicou o volume de acidentes. Outro fenómeno da falta de reflexão antes da construção dos projetos é a falta de previsão sobre os gestos que se permitem. Podemos educar para a utilização, podemos obrigar a fazer contas (é mais caro andar de trotinete que de táxi?) podemos obrigar a livros de instruções, mas não podemos colocar na mão de alguns selvagens uma data de problemas para a sociedade em geral. É o desarrumar para o caos.