Num rincão bem perto de nós, onde o improviso é lugar-comum, apresentam-se projetos, todos eles inacabados, numa guerra permanente que Camões haveria de apelidar da glória de mandar ou a vã cobiça e, “les uns et les autres”, olham, apenas e tão só, para o seu umbiguinho naquilo que é já considerado um perigoso e arriscado “reality show”.
D. Quixote tenta ser o centro da tal atenção, onda emana todo o conhecimento e sabedoria, investindo em palavras ocas que esbarram na maior parte das vezes nos moinhos de vento e, pasme-se, ouvindo permanentes recados vindos do estrangeiro. Realmente, o velho do Restelo (ainda) existe. Tudo acontece no ridículo de um contrassenso contrariando o senso comum, onde é utilizando a velhinha máxima da minha pita ser bem melhor que a tua.
Candidato vem do latim e significa puro, inocente, honesto, idóneo e, quem assim não é (tal e qual acontecia em Roma), o candidus levava com óleo e lama atirado propositadamente para manchar as suas alvas vestes.
O lado mau de tudo isto tem a ver com a natureza humana e o jogo político determina um padrão ambicioso, algo esquisito, que passa pelo comportamento descontextualizado em que o mal dizer, o cinismo, a hipocrisia, são a resposta mais fácil. Afinal cá dentro estão os inimigos, lá fora os adversários.
Perde-se o respeito pela liderança e o aguerrido ajuste de contas mata a política, pois tudo isto leva ao descrédito porque a transforma numa novela com episódios carregados de demagogia e populismo, sendo que se tenta arranjar culpados num processo faz de conta. Tudo isto repleto de precipitação que baste, não percebendo que estão a dar tiros nos pés, e… é cada bombardeamento.
O que verdadeiramente me espanta é que o outro poder toma partido, um de “les uns”, outro de “les autres”, em ondas hertzianas, da rotunda da Ti’Jaquina e na estação do sistema.
Fernando Tordo, ao interpretar “Tourada” no tempo da outra senhora, dizia “Ninguém nos leva ao engano” e “só ficam os peões de brega, cuja profissão não pega”, para concluir “Entram doidos e turistas. Entram excursões. Entram benéficos e cronistas. Entram aldrabões. Entram marialvas e coristas. Entram galifões”.
Gostei de ouvir dizer a Rui Rio: «Não discutimos nomes. Aqui não há truques nem jogadas de bastidores, infelizmente tão frequentes na vida político-partidária» e, numa outra tirada, vai mais longe: «Não há qualquer utilidade quando a política é exercida em torno de guerras partidárias estéreis ou conduzida por temas virtuais que podem alimentar notícias e fomentar a notoriedade pública, mas que nada dizem ao cidadão comum».
Perspicácia significa inteligência, sagacidade, esperteza, astúcia. Por cá, os da rosa ao peito nunca tiveram muito jeito para aplicar esta virtude. Demoraram mais de três décadas para se desentenderem. Já os alaranjados são, nessa matéria, bem mais auspiciosos. Demoraram apenas seis anos e picos para andarem todos à batatada. Isto sim… é verdadeira perspicácia.
Rio tem de assumir rapidamente a responsabilidade de por em ordem este galinheiro em completo rebuliço, pois se o não fizer, o eleitor pode muito bem fartar-se de tanta pataratice e apostar nos anti-perspicazes do passado, que (quer gostem, quer não) foram os únicos que fizeram alguma coisa por isto. O embonecar a cidade, aplicando a teoria de com papas, festas, rotundas e bolos se engana o povo, essa já foi. Teve a sua época. É passado.
Falta muito pouco para o términus deste festival alaranjado. Tempo para acabaram com estas historietas de intriga, escárnio e maldizer onde encaixam posturas caricatas, snobes, megalómanas e perfeitamente estapafúrdias. Com esta palhaçada laranja afinal quem perde é o burgo. Perde a democracia. Perdemos todos.