Nem tudo está bem quando acaba bem. É esta a posição do PSD relativamente à medida dos passes sociais que, já a partir de abril, entra em vigor nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.
Depois de longos meses de inexistente oposição ao Governo, passados em guerrilhas internas pífias, o PSD resolveu passar ao ataque. Sendo certo que muito a reboque da acutilância imprimida pelo candidato ao Parlamento Europeu Paulo Rangel, os sociais-democratas apostam agora numa oposição desenfreada a tudo quanto vem da chamada “geringonça”.
Mas não basta dar tiros para o ar. É primeiro preciso definir um alvo, e só depois disparar. Se depois o tiro acerta no alvo é outra história, facto que depende de uma série de variáveis que vão da estratégia política ao conteúdo e à forma da mensagem, passando pela escolha do mensageiro correto e pelo sempre necessário “spin” mediático.
A redução drástica dos preços dos passes estava em preparação há muitos meses e prevista no Orçamento do Estado para 2019. Em todo esse tempo o PSD não tossiu nem mugiu. Foi preciso o sempre presente Marques Mendes apelidar os novos passes sociais de “bomba eleitoral” para o PSD se arregimentar em exército anti eleitoralista.
No Parlamento, Fernando Negrão disse mesmo que esta medida era eleitoralista como nunca se viu, esquecendo os aumentos salariais à função pública concedidos por Sócrates e Cavaco em vésperas de eleições. Pior, no debate quinzenal de há uma semana, o PSD ficou isolado nas críticas feitas ao “eleitoralismo” da esquerda, com o CDS a evitar o erro de criticar uma medida cujo mérito é quase consensual, incluindo no eleitorado social-democrata e nos presidentes de câmara do PSD envolvidos na discussão.
Para os milhares de portugueses da classe média e média baixa que vão poupar dezenas e centenas de euros por mês em transportes, ouvir tais críticas pode parecer, no mínimo, sinal de desespero.
E para os (cada vez menos) portugueses que vivem no interior do país, ouvir críticas contra a alegada injustiça regional dos passes sociais só pode ser visto como demagogia. Afinal de que serviria medida idêntica em zonas sem problemas ou excessos nos fluxos de trânsito?
Mais acertada é a crítica do PSD à degradação e escassa oferta de transportes públicos, insuficientes para responder a eventuais aumentos da procura. Pois bem, mas isso em nada diminui a importância e oportunidade dos novos passes, até porque hoje a oferta é já escassa e degradada. E se de facto forem registados aumentos da procura, como se espera, isso irá reforçar a pressão para que haja uma efetiva aposta nos transportes públicos.
Há mais de um ano que Rui Rio anda a dizer ser um político diferente, seguindo a senda cavaquista de que mesmo após 20 ou 30 anos na política ativa alguém pode não ser político profissional, mas tão somente alguém ungido de uma qualquer divina vontade de servir a pátria.
Mas se assim é e se quer marcar pela diferença, Rui Rio tem de se afirmar pela positiva e não pela negativa. As rajadas para o ar contra os passes acertaram nos pés. E Rio precisa dos pés para acelerar o passo se se quer aproximar do PS.