1) Fui um dos que subscreveu a petição pública contra o enorme aumento previsto do IUC (Imposto Único de Circulação) para automóveis anteriores a 2007. Não me conformo com esta aberração do Governo, que é de uma imoralidade a toda a prova. Não só o Orçamento de Estado não precisa das migalhas que vai receber a mais com isto, como não é com vinagre que se apanham moscas, pois não é com esta desconchavada medida que as metas ambientais são atingidas. A maioria dos donos destes carros, de modesta condição económica, não tem outros para andar e precisa deles para trabalhar e para ganhar o dia a dia. Por isso mesmo, e porque não tem transportes públicos compatíveis que os acuda (no interior do país então nem se fala…), não tem outra alternativa que não seja continuar a utilizá-los e a poluir como dantes, mas agora a pagar muito mais por isso.
Passando o exagero, é caso para dizer que se o Governo já não gostava nem de “ricos” nem da classe média, que esmifra até não poder mais com inomináveis taxas e impostos, agora também deixou de gostar de “pobres”, que passam a ser mais umas cobaias do impiedoso “cobrador do fraque” em que se transformou o nosso governante-mor. Se a lógica é reduzir as emissões e evitar desperdícios, bem que o Dr. Costa se podia lembrar de aumentar à tripa-forra o IMI das casas anteriores a 2007, aquelas onde entra frio e chuva por todo o lado, para incentivar a sua troca por habitações com janelas e portas de última geração, painéis solares dos mais requintados, ar condicionado do mais caro e capoto do mais eficaz. Não há cá desculpas para quem não tem dinheiro para essas mordomias. Arranje três empregos, peça mais uns créditos bancários, venda toalhas de banho nas praias, pensos rápidos à porta dos supermercados ou jogue no Euromilhões. Faça lá o que quiser, mas o buraco do ozono em primeiro lugar…
2) Os médicos são das classes profissionais mais reputadas deste país. Os que trabalham no setor público são mal pagos, é certo, e por isso muitos se deixem desviar para o setor privado, que remunera bem melhor. Não sei se a salvação do SNS passa ou não por aumentos de salários na ordem dos 5%, como propõe o Governo, ou na ordem dos 30%, como propõem os sindicatos. O que sei é que há 1,7 milhões de portugueses sem médico de família, e isto mesmo depois do primeiro-ministro ter feito a promessa em 2016, quando só existiam cerca de 700 mil nessa situação, de não deixar nem uma pessoa sem tal salvaguarda. Mentirinhas à parte, a questão não parece ser apenas de má gestão dos recursos existentes. Há mesmo falta de médicos, ponto. O que não entendo, admito que por ignorância minha, é que a primeira cedência do Governo neste conflito com os médicos foi garantir-lhes a redução das 40 horas de trabalho semanal para as 35 horas. Ou estou a pensar mal, ou as 5 horas de diferença terão de ser feitas por outros médicos que não existem e que terão de ser contratados não se sabe bem onde. Resgatá-los do setor privado pode ser uma ilusão e queira o destino que a cura não seja pior que a doença! É preciso lembrar que depois deste Governo ter concedido esta mesma “benesse” aos funcionários públicos, o seu número aumentou de 650 mil para os atuais 745 mil, com os inerentes custos de muitos milhões de euros a mais a serem suportados por quem paga impostos. No caso dos médicos, as contas estarão seguramente a ser feitas, mas milhões a mais ou milhões a menos, o que não pode acontecer sem critério e sem estudo aprofundado é a tendencial abertura a médio prazo de vagas nas Universidades de Medicina para que no futuro o país tenha profissionais de saúde para dar e vender. Os défices de hoje não podem transformar-se em alarvidades amanhã, pois para desempregados já bastam os 5,3% de jovens que concluíram nos últimos anos a sua licenciatura em Portugal, a quinta taxa mais alta da União Europeia.
* Advogado e presidente da Assembleia Distrital do PSD da Guarda