Tino, ou tono

Durante a semana passada, por uma maioria bastante expressiva, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução que equipara o comunismo ao fascismo e considera ambos os regimes hediondos e criminosos.
Fiquei baralhado. Mas o bigode do Estaline não era mais garboso do que o do Hitler? O chapéu do Mao não era mais estiloso do que o do Pinochet? O mausoléu do Lenine não tem mais pinta do que o do Franco? Toda a vida ouvi que os seis anos de Nazismo foram a chuva fétida do Mal, e os trinta anos de Estalinismo, o sol radiante da Esperança. Pelo menos, foi assim que o Partido Comunista Português reagiu à notícia. Os 535 votos a favor, escreveram num comunicado oficial, «são a expressão e promoção do anti-comunismo» (presume-se que primário). Se for verdade, são 535 votos muito bem recebidos cá por casa.
Apesar de partilhar a opinião desses 535 eurodeputados, estou preocupado, porque sei que isto criará um novo problema ao jornalismo português. Como é que farão agora para escrever reportagens preocupadíssimas com a chegada da suposta extrema-direita sem dizerem nada da presença efectiva da extrema-esquerda? Como é que se grita “lobo” por um partido que do fascismo recuperou uns laivos securitários sem ter medo do que possam fazer ao rebanho partidos que se assumem declaradamente comunistas de várias estirpes? O Parlamento Europeu devia ter mais cuidado antes de aprovar resoluções deste tipo, que baralham o senso comum lusitano.
Por temer o reaccionarismo populista do Chega e o vanguardismo multicultural do Livre, sigo o manifesto político de Leonard Cohen: «Cada homem/ tem uma forma de trair/ a revolução/ Esta é a minha».

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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