Ter pessoas nos lugares de mandar

Escrito por Diogo Cabrita

“Tudo isto vem de mal gerir, de mal decidir, de ter oferecido lugares a gente incapaz, a pessoas que carregam indecisão para a liderança, que aportam fel dos seus assuntos mal resolvidos para a Função Pública.”

A dignidade do Manuel, a elegância da Ana, a dificuldade de trato do Fernando, como podem ser tratadas nas instituições públicas? Para que serve a saúde ocupacional se não nos retira em tempo de respeito, não antecipa a vergonha, não reduz a ineficiência? Porque tem de trabalhar a Ana num lugar de atendimento se está incapaz? Porque se arrasta uma funcionária num lugar que carece de decisão e de eficiência? O mundo hoje é veloz, é exigente, é escrutinado a filmes de telemóvel. A Ana treme muito e suja-se a tomar café. Todas as manhãs se arrasta e se suja e se perde entre corredores que deixou de conhecer. O Manuel traz um braço pendurado e uma perna que teima em não acompanhar os desejos da cabeça que vende saúde. O AVC desequilibrou os lados do corpo. Vai para o seu posto que não pode cumprir. A eletricidade exige duas mãos e uma decidiu adormecer. O Manuel vem e aguarda, aguarda que passe cada dia e que chegue dentro de 12 anos a reforma. Há também o diretor que decidiu que determinado funcionário fica sem funções. Não se dão, não se entenderam e por isso aquele Fernando vai de castigo para um sótão ou para uma mesa no meio dos outros. Não faz nada, não tem tarefas e assim constrói raízes com o assento, ganha desmotivação, perde vontade: talvez se vá embora! Tudo isto é inaceitável por parte da Instituição Pública, tudo isto é incompreensível e todos nós já testemunhámos em lugares do Estado. Tudo isto vem de mal gerir, de mal decidir, de ter oferecido lugares a gente incapaz, a pessoas que carregam indecisão para a liderança, que aportam fel dos seus assuntos mal resolvidos para a Função Pública. Eu tenho uma solidariedade doentia pela Ana, pelo Manuel e pelo Fernando e sei que se tivéssemos Pessoas nos lugares de mandar, isto estava tudo solucionado. Também me custa que em vez de solucionarmos de modo digno aqueles que a má sorte incapacita demasiado cedo se apaguem fogos de crime com ondas de dinheiro na banca, nos transportes, em monumentos vaidosos, em triplas estradas, em agrado a corporações e a compadrios.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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