«Tenho ao cima da escada», no terraço,
Um S. João Baptista que estremeço!…
É, a ele que eu conto tudo o que faço;
É ele que me dá tudo o que eu peço.
Tem dois olhos castanhos e marotos
Como os de meu pai. A face, a Sonhar,
Lembra-me um louco bando de garotos,
A saírem das aulas a cantar!
Tem, em baixo, a seus pés, um anho de ouro,
Que olha p’ra ele a querer rezar;
S. João guarda-o, como um tesouro,
Que se perdera e se voltou a achar.
Numa noite quente de S. João,
Quando quis levar-lhe o meu rosmaninho,
Caiu-me aos pés, triste, o meu coração,
Por lá já não ‘star o meu borreguinho.
-S. João, quem nos roubou o doce cordeiro,
Que tinhas aí, encostado aos pés?
Quem foi o ladrão, o aventureiro? !
Ai, mas que ruim pastor que tu és!
– Doidinha! Ninguém o roubou. Ninguém…
Foi ele, que abalou, num raio de luz.
– Já sei. Não digas. Foi
P’ra sua Mãe…
-Não, minha filha,
Voltou para a cruz.
Maria Alice Martins, Vila Franca das Naves