A propósito daquilo que já foi apelidado pelo insuspeito “Wall Street Journal” como “A guerra comercial mais idiota da história” importa refletir sobre o que essa “guerra” poderá determinar mundialmente. Economistas, dos mais diferentes quadrantes políticos, creem na possibilidade de uma recessão sem precedentes, desemprego e falências em série.
Lembrar que Trump já tinha ameaçado criar instabilidade em vários domínios, desde ameaças militares a proclamações de anexação de outros países. Agora anuncia uma pressão económica sobre a quase totalidade dos países com as chamadas “tarifas recíprocas”.
Trump está a aumentar as tarifas sobre as importações da quase totalidade dos países. O objetivo é combater o que considera serem impostos, subsídios e regulamentos injustos aplicados às exportações dos Estados Unidos da América do Norte e, por outro lado, reduzir ou acabar mesmo com aquilo que Trump chama benefícios da entrada dos produtos desses países nos Estados Unidos da América do Norte.
Trump alega que as suas medidas vão “libertar” a indústria americana ao aumentar o custo da importação de bens estrangeiros para as empresas e famílias americanas, reduzindo assim a procura e o enorme défice comercial que têm atualmente com o resto do mundo. Quer reduzir esse défice e forçar as empresas estrangeiras a investir e a instalarem-se nos Estados Unidos da América do Norte em vez de exportar para lá.
Mas Trump esquece-se que o regresso das empresas que abandonaram os Estados Unidos da América do Norte, por encontrarem “poisos” onde a mão de obra era bem mais barata, não se fará num curto intervalo de tempo. Demorará anos. E se algum dia tal acontecer já nenhum dos arautos de tais medidas estará vivo para contar o que sucedeu. Se é que haverá alguma coisa a contar. Dado que pode existir um tresloucado que, em desespero de causa, pode carregar no botão vermelho.
É que a solução pode mesmo “passar” por aí. Quem acredita que tudo irá acontecer como Trump vaticina? Trump pode dizer tudo que não convence ninguém. Taxar países com pequenas economias é revelador da idiotice das medidas, face à desproporcionalidade e relevância na balança comercial dos Estados Unidos da América do Norte, como face ao nível de desenvolvimento desses países.
Trump quer reduzir o défice da balança comercial dos Estados Unidos da América do Norte com sangue, suor e lágrimas dos mais vulneráveis, nomeadamente dos países ditos aliados. Lembrando a célebre frase de Bernard Lewis, «de que é arriscado ser inimigo da América, mas pode ser fatal ser seu amigo»!
E como conjugar esta recessão, que é por de mais evidente, com a imposição aos países membros da NATO de um aumento de 5% do PIB para o orçamento daquela organização? Com que recursos? Como explicar tal medida aos cidadãos que vão pagar todos os bens mais caros, desde serviços, medicamentos, alimentação e outros?
Mas as políticas de Trump vão mais longe. Todos os projetos de ajuda financiados pelos Estados Unidos da América do Norte, em todo o mundo, estão a ser suspensos, reduzidos ou eliminados devido ao congelamento sem precedentes de quase toda a ajuda externa por parte da administração Trump. Incluindo, imagine-se, os apoios à Organização Mundial da Saúde e à retirada do Acordo de Paris, e logo os Estados Unidos da América do Norte, o país mais poluidor do mundo.
Mais estranho é não se ouvir a ONU. Retirou-se de cena? Tudo parece caminhar para uma Sociedade das Nações do antes da II Guerra Mundial.
Mas também acontece o ridículo. Uma elite fala de “kits” de sobrevivência para a guerra. A guerra que está instalada é uma guerra comercial. Infelizmente, a atual elite que nos desgoverna não estudou as causas e principalmente as consequências da “Grande Depressão” que envolveu a América do Norte, a Europa e o Japão. Entre 1929 e 1934, o comércio mundial registou uma quebra de cerca de 66%. Estudem e leiam com atenção “As Vinhas da Ira”, de John Steinbeck. Terão muito a aprender se para tal tiverem engenho e arte.