Substituir porco por bactérias: a insulina humana

Escrito por António Costa

«Talvez por este motivo a insulina humana tenha sido uma das primeiras proteínas produzidas em bactérias, de forma recombinante»

A diabetes é uma das grandes pragas da nossa sociedade industrializada. Nas situações mais graves o único tratamento é a administração artificial de insulina. Trata-se de uma hormona que regula o consumo de glucose e, portanto, em doses convenientes, permite manter os níveis deste açúcar no sangue em valores adequados.
Se as concentrações de glucose no sangue forem demasiado elevadas durante longos períodos de tempo observa-se toda uma série de sintomas patológicos que, simplificando, mais uma vez, poderiam resumir-se a uma espécie de envelhecimento prematuro. Tal como quando se aquece o açúcar ele carameliza e fica escuro e quebradiço, a manutenção sustentada de elevados níveis de glucose resulta numa lenta, mas inevitável, “caramelização” de muitos tecidos e proteínas, que acabam por perder as suas propriedades e deixam de funcionar.
É por isso indispensável que um diabético efetue um controlo rígido dos seus níveis de glucose no sangue, recorrendo a uma dieta adequada, à realização de exercício moderado e, em caso de necessidade, ao consumo de medicamentos, incluindo a insulina. A insulina é uma pequena proteína e, claro, há um gene responsável pela sua produção. Antes do aparecimento da tecnologia do ADN recombinante, os diabéticos tinham de se injetar com insulina porcina, o que se explica porque não havia insulina humana disponível e porque a sequência das duas proteínas só difere num aminoácido, sendo quase idênticas. Todavia, um só aminoácido pode constituir uma grande diferença em alguns casos… Assim, passado algum tempo, os doentes reconheciam a insulina porcina como estranha e acabavam por produzir anticorpos específicos que a desativavam quando era administrada, deixando-os sem alternativa terapêutica.
Talvez por este motivo a insulina humana tenha sido uma das primeiras proteínas produzidas em bactérias, de forma recombinante. Em 1982, depois de um denodado esforço de cerca de dez anos, em que também participaram vários cientistas do Departamento de Bioquímica de Stanford, a empresa Lilly conseguiu que a comercialização de insulina fosse aprovada. Mesmo que fosse apenas pelo benefício que isso implicou para a melhoria da qualidade de vida dos doentes de diabetes, já teria valido a pena a revolução realizada pelo ADN recombinante e pela engenharia genética.

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António Costa

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