Síria a sério em série

Sabendo que os leitores recorrem à imprensa e aos seus afamados colunistas para os ajudar a compreender o mundo, não seria obviamente aqui que os leitores viriam à procura de informação fundamental.

No entanto, há situações no mundo que requerem explicações consubstanciadas e sérias. Não será, com certeza, nesta coluna que as encontra. Depois de, no fim de semana, a força aérea russa ter bombardeado Aleppo, apercebi-me que nunca, ao longo dos anos que dura esta coluna, houvera referido a Síria. Já tinha mencionado a Siri, já abordei séries, mas também nunca falei de Soria, sem nenhum desprimor para esta pacata cidade de Castilla-León.

Pela situação geopolítica que vive, fui procurar saber mais sobre o conflito na Síria, já que em Soria parece tudo calmo.

O que se passa nesse país do Médio Oriente é muito fácil de entender: há o governo de Damasco e os movimentos oposicionistas. As Forças Armadas Sírias, as Forças de Defesa Nacional e as milícias Shabiha estão ao serviço do governo de Assad. Os movimentos de oposição, o Conselho Nacional Sírio e a Coligação Nacional Síria formaram o Exército Livre da Síria, e posteriormente, o Exército Nacional da Síria. Na oposição ao governo de Damasco junta-se o Comité de Coordenação Nacional para a Mudança Democrática. Um grupo da Al-Qaeda criou também um Governo de Salvação Sírio, que não reconhece nenhum dos outros. Na região do Nordeste existe ainda a Administração Autónoma do Norte e Leste da Síria. Para já, nada que os Monty Python não tivessem já escrito no seu filme “A Vida de Brian” com as divisões entre a Frente do Povo da Judeia, a Frente do Povo Judeu, a Frente Popular do Povo da Judeia e a Frente Popular da Judeia, esta composta por um único militante.

Na frente de guerra, o governo de Assad tem como aliados nos campos de batalha a Rússia, o Irão e o Hezbollah. Do outro lado, existe o Exército Livre, apoiado pelos EUA, que são inimigos da Al-Qaeda, pela Turquia, que tem relações próximas com a Rússia que apoia Assad, e por várias facções da al-Qaeda, que é considerado um grupo terrorista pelos EUA. Os EUA, aliados da Turquia na NATO e na guerra contra Assad, apoiam o Exército de Libertação Curdo, que por sua vez são inimigos da Turquia. O Exército Livre da Síria e as Forças Democráticas da Síria também são inimigos entre si e ambos são apoiados pelos EUA. Há pequenos grupos islamitas da Al-Qaeda que são inimigos do grande grupo islamita, o Estado Islâmico. O Estado Islâmico é inimigo de todos.

Sobre este conflito, há muita gente – não eu, que não me quero meter em confusões com a Comissão Nacional de Igualdade – que o compara à carteira de uma mulher: há lá de tudo e tudo misturado. Eu não escreveria isso, mas há pessoas insensíveis que o dizem.

Perante o sucesso de explicar aos leitores uma questão de geopolítica internacional, no futuro pretendo tratar aqui de um assunto bem mais complexo, com mais beligerantes e com uma teia de coligações e adversários muito mais intrincado do que a guerra na Síria: as próximas eleições presidenciais.

*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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