A questão do lítio é igual à de tantas outras, como é típico no nosso país. Sabemos que há um problema, que é urgente resolver, mas, quando aparece a solução vêm as objeções e, com elas, o regresso à estaca zero.
Era urgente, há mais de 30 (ou 40?) anos, a construção de um novo aeroporto para Lisboa. Discutia-se se seria na Ota, em Alcochete ou no Montijo. Se era um novo aeroporto ou uma extensão da Portela. Pensou-se também em Beja. Houve milhões e mais milhões gastos em estudos e mais estudos. Depois de muito estudarem decidiram que era no Montijo, mas os municípios da zona não querem e ameaçam com processos. Resultado? Ainda não há novo aeroporto e, a haver, não se sabe quando, poderá ou não ser no Montijo.
Alguém teve a ideia de coincinerar resíduos perigosos nas fábricas de cimento. A ideia era boa e resolvia, pensava-se que eficientemente, um problema grave. Toda a gente estava de acordo, desde que não fosse numa fábrica de cimento perto de casa. Houve manifestações, cortes de estrada, petições na Assembleia da República, o cardápio todo. Não se falou mais nisso e hoje ninguém se preocupa mais com o assunto. Não sei o que se faz com os resíduos perigosos, nem se são enterrados, incinerados ou pura e simplesmente esquecidos por aí.
Quando o clima começou a enlouquecer achou-se por bem descarbonizar. Todos achamos bem, mesmo os que pensam que a terra é plana ou que as vacinas fazem mal. O problema foi fechar as centrais termoelétricas a carvão. Isso é que não pode ser, porque se perdem postos de trabalho. Porque a eletricidade vai ficar mais cara. Porque se calhar não é tão urgente assim descarbonizar. Talvez só quando construírem o novo aeroporto de Lisboa, ali para Souselas, onde queriam em tempos coincinerar.
Depois descobriu-se lítio em Portugal. Em tempos falava-se de petróleo e agora é o lítio. É essencial para as baterias dos carros elétricos e, mais uma vez, para a descarbonização da economia. Há que começar por algum lado para reduzir as emissões de dióxido de carbono e evitar a catástrofe climática que se adivinha cada vez mais próxima. Sim, mas não explorando o lítio. Que vão buscar as baterias à China ou à América do Sul. É que a exploração é muito poluente e prejudica o turismo. É de certeza verdade, mas e as pedreiras que já há, as minas de ferro, de cobre, de tantos minerais que há no nosso subsolo e pensávamos serem uma riqueza, não são também poluentes? Vamos fechar tudo?
Estamos em fevereiro e estão 16 graus lá fora, com sol. Amanhã espera-se mais uma subida de temperatura e as árvores pensam que já é Primavera. A magnólia do outro lado da rua já tem flores e toda a gente acha que é preciso fazer alguma coisa com urgência. Mas não explorar o lítio, ou construir um novo aeroporto, ou coincinerar resíduos perigosos, ou fechar as centrais a carvão, ou fazer alguma coisa que realmente mude a situação e muito menos sem muitos estudos prévios. É mais fácil e mais seguro deixar tudo como está: afinal, não é tão mau assim termos calor no Inverno e talvez venha a chover lá mais para o Verão.
Sim, mas não no meu quintal
“É de certeza verdade, mas e as pedreiras que já há, as minas de ferro, de cobre, de tantos minerais que há no nosso subsolo e pensávamos serem uma riqueza, não são também poluentes? Vamos fechar tudo?”