Sérgio Treze

Escrito por Diogo Cabrita

“Sérgio Costa tem de representar o poder, a dignidade, a cultura, a cidade mais alta, mais forte, mais farta. Mas aquele Sérgio era emoção sem filtro, carregava uma língua maior que a alma e despejava insultos, suspeitas e desassossego.”

O Sérgio Costa que vi no dia 13 de agosto e repetido a 14 é presidente da Câmara da cidade da Guarda – altaneira, forte, culta, e ele foi eleito num escrutínio discutível, mas democrático. Discutível porque as pessoas cada vez mais votam sem usar a razão e cada dia mais a ausência é esmagadora. Por isso Sérgio chega a Presidente de uma cidade fria, com perda massiva de população nas últimas décadas. O Sérgio que ouvi tinha 46 anos e era um leão zangado. Cuspia fogo contra os incendiários, falava em linchamentos (se não tivesse ouvido na Antena 1 não acreditava), ululava de raiva por arder a Guarda. Só que Sérgio Costa tem de representar o poder, a dignidade, a cultura, a cidade mais alta, mais forte, mais farta. Mas aquele Sérgio era emoção sem filtro, carregava uma língua maior que a alma e despejava insultos, suspeitas e desassossego. No dia 13 os incendiários queimavam-lhe os neurónios, no dia 14 atirou-se ao INEM, e nunca cuidou de certificar o que dizia. “Sérgio Dizia” podia ser o seu nome ali atrás. “Sérgio Sem Freio” retirava a tampa do casaquinho e mostrava o peito tatuado do vingador. “Sérgio Encosta Queimado” que dilacerava os moinhos de vento e vociferava.
Não posso negar que não o conheço, não tenho qualquer má ou boa opinião prévia, não me move desejo obscuro, mas um Presidente composto, exemplar no discurso é mais importante para a Guarda que um tipo que se perde na adversidade. O que se diz na TV não desaparece, o que se grita na Antena 1 “lá se Guarda”. O engenheiro mecânico do IPG esteve muito mal e esta crónica é para que se lembre e se envergonhe. Linchar inocentes é a consequência das aleivosias que se disparam sem pensar. Acreditar que os fogos são todos postos ou negligentes é ignorância e demagogia ao nível do pior André. Não, esse Presidente não serve a Guarda de honra, não nos almeja virtude. Mas há uma coisa que podia fazer: responder-me triste – ofendido não, que significava que nem percebia a gravidade do que fez – e retractar-se no jornal O INTERIOR, na Rádio Altitude e depois de se informar um pouco, falar de fogos, de prevenção, de falta de cuidados nas florestas à guarda do Estado, de biodiversidade, de projetos para o património futuro, de incentivos à população que queira plantar couve portuguesa, oliveiras, vinhas, manter o gado caprino, aumentar os lobos.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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