Será errado renunciar à Internet, da mesma forma que os cristãos renunciam o pecado? Estou numa outra ponta do país, mas como os familiares se recusam a entrar no mar que é a internet, sinto-me a viver mesmo num outro país. Parece que sempre que saio de casa da família vou cruzar uma fronteira; e sempre que chego a minha casa é como se procurasse uma cabine telefónica para ligar “lá para baixo” a avisar que cheguei sã e salva.
Admito que não costumo incentivar os meus pais a entrar nas redes sociais – é certo que aproxima a família, mas também é certo que os dias deixam de ter 24 horas e passam a ter 12. E tão bem que me sabe chegar a casa da família e sentir-me desligada do mundo, do resto do país, quase da cidade vizinha.
Não interessa a roupa nova que a tia comprou. Não interessa a viagem que a prima fez. Não interessa a pessoa que a minha amiga recebeu. Interessa acordar cedo, alimentar os animais, preparar as refeições, visitar os familiares e amigos, preparar o inverno frio e passar umas boas horas no interior do nosso Portugal.
Ali há simplicidade, felicidade e um silêncio reconfortante. Será por renunciarem tanto à Internet – que têm em casa, mas não usufruem? Ninguém me tira da ideia que sim.
Margarida Cardoso, Guarda