Seis anos depois…

Sem surpresa, e confirmando o que tantas vezes ao longo do último ano aqui se escreveu, o ainda presidente da Câmara da Guarda está a caminho de Bruxelas. Depois de ter assegurado um lugar entre os «elegíveis» – os estudos de opinião apontam para a eleição dos primeiros seis da lista do PSD às europeias – Álvaro Amaro, que soube manter o silêncio sobre o assunto e se foi esquivando às perguntas comprometedoras sobre o assunto, terá na sua eleição para o Parlamento europeu o corolário de uma vida dedicada à política.
Como comentei em novembro, «a Guarda foi o elevador que permitiu a Álvaro Amaro estar entre os vencedores e lhe garantiu a ribalta que tão bem soube aproveitar». E, sem dúvidas, há muito que o ainda presidente da Câmara tem as malas feitas para seguir viagem. Como o próprio referiu em conferência de imprensa, pode defender a Guarda ou a região onde quer que esteja. Para ele, o lugar onde está vai muito para além da ideia de sítio ou ponto físico onde se encontra, porque ele está e estará sempre na defesa da comunidade, dos desafios para o futuro do todo e não apenas das partes. Álvaro Amaro defende-se dos que o criticam por partir a meio do mandato da forma mais simples: a sua dedicação e defesa da região, onde quer que esteja, será sempre enorme, como o seu trajeto e presença em mais de 30 anos de vida pública o podem confirmar – nenhum político esteve tantos anos no ativo e com protagonismo regional como Álvaro Amaro.
Enquanto outros asseveravam que Amaro não deixaria de cumprir o mandato para que foi eleito na Guarda (e, maldosamente, alguns “alvaristas” ofendiam e atacavam todos os que faziam a leitura que agora se confirma), o ainda autarca, legitimamente, segue o seu rumo deixando para trás uma cidade mais “arrumada”, uma Câmara saneada financeiramente, a capitalidade da CIM na cidade, a autoestima dos guardenses pelas nuvens, um legado de afirmação da Guarda, a sede da CVRBI, um par de eventos relevantes (Cidade Natal e FIT), meia-dúzia de rotundas (a mais estranha ainda por inaugurar na Estação), a cultura vergada ao “popularucho” (inclusive ostracizando e excluindo o mais relevante criador da cidade e agora diretor-geral das Artes, Américo Rodrigues) e projetos, da alameda da Ti Jaquina à variante à Sequeira, dos Passadiços à candidatura a Capital Europeia da Cultura de 2027. Se Amaro diz que gostava de ter inaugurado a piscina fluvial no Caldeirão, que os atrasos não permitiram, a verdade é que passados seis anos não conseguiu cumprir com a sua primeira e mais emblemática promessa: a reabertura do Hotel de Turismo da Guarda, aquela que deveria ter sido a marca da Guarda como capital turística, que afinal não é…
E deixará uma casa em guerra aberta, onde Carlos Chaves Monteiro é o senhor que se segue, mas com várias brechas que o cimento de Amaro deixará de tapar e a ascensão de Cecília Amaro não chegará para disfarçar ou esconder – Chaves Monteiro vai ter dois anos para mostrar o que vale com a oposição e as farpas a virem sempre e só dos que o rodeiam. Enquanto o circo não pega fogo, o PS mudo e calado continua sem perceber que caminho percorrer, longe dos problemas da cidade, ausente do debate político e incapaz de apresentar alternativa.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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