Saúde e interioridade

Escrito por Santinho Pacheco

Na passada semana deu entrada no Parlamento uma proposta do Governo para uma nova lei de Bases da Saúde depois de 28 anos de vigência do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
É uma iniciativa que pretende ser o pilar da visão humanista do SNS desde a sua génese e na matriz de António Arnaut e trazer ao debate todos aqueles que nele se reveem e o defendem. A nova lei mantém o fio condutor da inicial – um serviço nacional de saúde universal, geral, tendencialmente gratuito – mas pretende corresponder aos novos desafios neste inicio de século.
A questão do despovoamento e da coesão territorial na saúde é um desses desafios. Nos territórios de baixa densidade, envelhecidos, vivem cidadãos que não podem ser abandonados à sua sorte, à margem do SNS. Há dias a senhora ministra da Saúde dizia que a ULS Guarda é vítima da interioridade. Os custos da interioridade são um conceito com décadas e não se pode responder a novos problemas com receitas do passado que já provaram a sua ineficácia.
Uma dessas velhas ideias agora revisitadas é o Centro Hospitalar da Beira Interior de que Castelo Branco nem quer ouvir falar, reduzido, na prática, a um Centro Hospitalar Covilhã-Guarda. O presidente da Câmara da Guarda defende, o presidente da Câmara da Covilhã apoia, o presidente do Centro Hospitalar da Cova da Beira diz que há vantagens, sublinhando «embora nós sejamos o hospital nuclear …». Ou seja, Centro Hospitalar Covilhã-Guarda sim senhor, mas o hospital é na Covilhã.
Dito isto, causa-me perplexidade verificar que, na Guarda, há quem defenda a unificação de instituições sem cuidarem das consequências a médio e a longo prazo. O Hospital Sousa Martins não pode ser o anexo de outra qualquer unidade hospitalar. Não dá para entender. Que nessa cidade vizinha defendam essa solução, compreendemos; mas na Guarda? Na Guarda não devemos é perder de vista o projeto da segunda fase do Hospital. Esse sim é um objetivo que vale a pena.

2- Fui convidado para estar presente no encontro “Fora da Caixa” que a CGD realizou agora na Guarda, e não fui!
Não fui por causas remotas – não esqueço o encerramento do balcão de Almeida e a forma como o assunto foi conduzido –, mas também por causas próximas – cortar os prémios de mérito aos melhores alunos da Ensiguarda, a 15 dias da sua atribuição, não se faz. Falamos de 1.500 euros…
Vir agora à Guarda falar de “Interioridade: Desafios e Oportunidades” é um gesto de profunda hipocrisia. O sinal que a CGD transmitiu à economia, aos investidores, em Almeida e todo o interior, com o encerramento de balcões, é intolerável.

* Deputado do PS na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda

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Santinho Pacheco

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