O assessor parlamentar do Livre decidiu vestir uma saia no dia da tomada de posse dos deputados e fingir que não queria que ninguém reparasse nisso. Quanto à quebra protocolar, não tenho moral para criticar. Já usei sapatilhas em tomadas de posse, calças de ganga em entregas de diplomas, e não usei gravata quando defendi o doutoramento. Também não vou criticar a saia, embora me pareça que aquele modelo é muito 2017.
O que critico é a costumeira incongruência da esquerda (e as meias esverdeadas). Para quê usar uma roupa diferente dos outros se não é para ser notado? A esquerda é contra a moda porque esta materializa o capitalismo e o consumismo, e porque exacerba o individualismo. Mas também é contra o uso de uniformes porque simbolizam a ordem e o conformismo. É contra a exibição do corpo porque sexualiza os indivíduos, mas não admite limitações às escolhas sexuais. Discorda que as escolhas individuais produzam distinções pela aparência, mas é totalmente contra a imposição de códigos de vestuário em instituições. Defende que um homem pode vestir saia, mas que é sexista usar gravata. Que um homem de vestido é livre e moderno, mas uma mulher de vestido é oprimida e antiquada.
Repito, o senhor assessor pode vestir-se como quiser. Mas da mesma forma que a esquerda vê em mim um burguês reaccionário com más opções ecológicas (como porco, conduzo carro e uso microondas), eu vejo no senhor assessor um excêntrico com fraco gosto para vestidos – até porque um Näz (português e sustentável) seria muito mais apropriado para a ocasião.
* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia