Regresso ao futuro

“Actualmente, divirto-me muito com uns políticos que há na casa da democracia e na casa do governo, com fundos redondos e pesados (dos políticos e da democracia), e que nunca se viram nem caem, a que chamamos, obviamente, o costa sempre-em-pé.”

Durante várias décadas, um dos principais problemas do país era a taxa de abandono escolar, alunos que não terminavam o ciclo de estudos e saíam da escola antes de concluir a sua formação.
Hoje em dia, um dos principais problemas do país é a taxa de abandono governativo, ministros e secretários de Estado que não terminam o ciclo eleitoral e saem do governo antes de concluir o seu mandato.
Quando era criança, divertia-me muito com umas canecas que havia em minha casa e em casa da minha avó, com um fundo redondo e bastante pesado (as canecas, não a minha avó), e que nunca se viravam nem caíam, a que chamávamos, obviamente, as canecas sempre-em-pé.
Actualmente, divirto-me muito com uns políticos que há na casa da democracia e na casa do governo, com fundos redondos e pesados (dos políticos e da democracia), e que nunca se viram nem caem, a que chamamos, obviamente, o costa sempre-em-pé.
No meu tempo de escola havia uns chicos-espertos que tinham adquirido o arrebito saloio de serem arruaceiros no recreio, mas bastante inocentes em frente dos professores, conseguindo por artes da dissimulação passar sempre as culpas para os matulões que inevitavelmente existiam em cada turma, mesmo que estes fossem, na realidade, pacatos e inofensivos.
Agora, há uns chicos-espertos que adquiriram a sagacidade saloia de serem zaragateiros nos gabinetes, mas muito santinhos em frente das câmaras, conseguindo por artes do fingimento passar sempre as culpas para as oposições que inevitavelmente existem em cada legislatura, mesmo que estas sejam, na realidade, pacatas e inofensivas.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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