Reconhecer os profissionais da economia social: uma necessidade urgente e importante

Escrito por Ricardo Antunes

A economia social continua a afirmar-se como um setor essencial para o desenvolvimento humano e social. Os profissionais que nela trabalham são verdadeiros pilares no apoio às pessoas em situação de vulnerabilidade, promovendo a inclusão, a solidariedade e o bem-estar. No entanto, continuam a enfrentar desafios significativos no que toca ao seu reconhecimento e valorização.

De acordo com a última Conta Satélite da Economia Social com dados disponíveis, em 2020 o setor foi responsável por mais de 255 mil postos de trabalho remunerados em Portugal, e gerou cerca de 5,5 mil milhões de euros de valor acrescentado bruto. Estes números são particularmente expressivos, sobretudo considerando que a economia nacional atravessava um período de retração devido à pandemia.

Só as áreas da saúde e dos serviços sociais, onde se incluem lares de idosos, unidades de cuidados continuados e centros de apoio social, representaram mais de 153 mil empregos remunerados e quase 3 mil milhões de euros em valor acrescentado. Estes dados confirmam a economia social como um pilar incontornável na estrutura do país, com impacto direto na vida de centenas de milhares de cidadãos.

Para além dos números, importa reconhecer o valor humano e social deste setor. Em muitas localidades do interior, a economia social é a única resposta concreta em áreas como a deficiência, a infância, os cuidados continuados, a saúde mental ou o apoio às pessoas mais vulneráveis. É, frequentemente, a presença que resta onde o Estado e o mercado não chegam.

Contudo, apesar desta relevância, os profissionais da economia social continuam a enfrentar uma clara desvalorização. Em 2020, o salário médio praticado nas organizações do setor foi cerca de 15 por cento inferior à média nacional, apesar da elevada exigência, responsabilidade e complexidade das funções exercidas.

É urgente mudar este cenário. É fundamental garantir políticas salariais mais justas, criar programas públicos de incentivo à formação contínua, valorizar a experiência acumulada e promover uma cultura de reconhecimento efetivo. Só assim se assegura a sustentabilidade das organizações e a motivação das equipas.

Estes profissionais não são apenas técnicos. São cuidadores, educadores, defensores de direitos, agentes de transformação social. São rostos que garantem dignidade, estabilidade e esperança a quem mais precisa.

Em 2025, reconhecer os profissionais da economia social é reconhecer que o progresso não se mede apenas em crescimento económico, mas também na forma como cuidamos uns dos outros. Esta valorização é uma escolha política, social e ética. E é uma escolha que não pode continuar adiada.

Ricardo Antunes

Diretor Geral da CERCIG

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Ricardo Antunes

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