Questionário de próstata

Durante o Verão, os jornais insistem em publicar a aplicação do famoso Questionário de Proust a figuras públicas e pessoas obscuras. Desagradado com o carácter muito optimista dessas questões, o Observatório de Ornitorrincos sugere uma versão contemporânea mais pessimista, intitulada:

Questionário de próstata

Na sua vida miserável, qual é a sua ideia de infelicidade plena?
Entre a pandemia e o aquecimento global, de que é que ainda não tem medo?
Qual é a única característica que não detesta em si mesmo?
Há alguma característica, assim por alto, que aprecie nos outros?
No balanço dos seus actos, qual foi a sua maior idiotice?
Qual é o seu estado de doença mental?
Qual considera ser a imbecilidade mais sobrestimada?
Em que ocasiões lhe passa pela cabeça, mesmo que não execute, ser honesto?
O que menos gosta na sua aparência, a forma ou o conteúdo?
Que pessoa viva não desprezaria, caso as circunstâncias certas se formassem?
Qual a característica em homens para que mais se está a borrifar?
Qual a característica em mulheres para que mais se está a borrifar?
Que palavras ou frases usa, nas poucas vezes que tem vontade de falar?
Quantas horas durou o maior amor da sua vida?
Sendo impossível na vida real, qual o sonho em que foi mais feliz?
Não tendo tido nunca jeito para nada, que talento mais gostaria de ter tido?
Sendo uma criatura deplorável, se pudesse mudar algumas coisas em si, manteria alguma característica ou mudaria mesmo tudo?
Como nunca alcançou nada, o que gostaria que tivesse sido a sua maior conquista?
Se morresse e voltasse, consideraria poupar a humanidade e voltar a morrer de imediato?
O que mais valorizaria nos seus amigos, se os tivesse?
Quem são os seus artistas favoritos nas tardes de Domingo da TVI?
Quem é o seu herói da ficção, Marcelo Rebelo de Sousa ou António Costa?
Com que figura histórica mais se identifica, Heidi ou Abelha Maia?
Qual é o seu maior arrependimento, ter nascido ou ainda estar vivo?
Como gostaria de morrer agora já neste momento?
Entre todas as desgraças que lhe aconteceram, qual considera ser o seu maior infortúnio?
Considerando as dívidas e as penhoras, qual é o bem mais valioso que julga ter?
Qual considera ser a maior profundidade da sua miséria?
Qual é a sua ocupação favorita durante os dias que passa sem fazer nada?
Com essa personalidade cinzenta e apagada, qual é seu o estigma mais assinalável?
Tem um lema de vida ou uma vida de lesma?
Se Deus existisse, gostaria de o insultar pelo destino que lhe traçou?

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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