Querido Parente Natal

“Não te esqueças de levar mais uma dose da vacina nem de fazer o teste PCR antes de entrar em casa das pessoas. Espero que na tua fábrica de brinquedos toda a gente ande protegida e cumpra a distância de segurança, que não seja como a bandalheira que se vê nos filmes e nas discotecas.”

Chamo-te assim porque, apesar de teres barba e barriga, não devo assumir que és homem, muito menos pai, ou até que essa barriga seja um castigo por insistires em comer coisas com glúten. Podes estar grávido. Só espero que não seja de um duende, e que não te tenhas aproveitado dos teus privilégios para receber a semente de uma pobre pequena criatura mitológica.
Espero que este ano venhas de trenó eléctrico para não abusares das renas nem dos combustíveis fósseis. Se o trenó tiver uma bateria de lítio, depois logo se vê o que se faz com ela, que isto de uma pessoa se preocupar com o ambiente não pode ser tudo de uma vez. Se te tentarem vender um trenó movido a energia nuclear, recusa. Se o presidente Macron elogia, eu desconfio.
Não te esqueças de levar mais uma dose da vacina nem de fazer o teste PCR antes de entrar em casa das pessoas. Espero que na tua fábrica de brinquedos toda a gente ande protegida e cumpra a distância de segurança, que não seja como a bandalheira que se vê nos filmes e nas discotecas. Manda vacinar os duendes, mesmo que sejam imunes a vírus. As crianças também não ficam doentes, e nós estamos generosamente a oferecer-lhes vacinas.
Parente Natal, este ano não peço nada para mim. Peço-te que ofereças muitos brinquedos ao menino Putin, que é filho da senhora Putina, para ver se ele se distrai, e deixa em paz os meus amigos da Ucrânia, da Bielorrússia e da Arménia. Mas se ele não conseguir evitar esse impulso de os invadir, pede-lhe encarecidamente que todos os soldados possuam certificado digital e usem máscara, e que os tanques venham equipados com motores eléctricos. Invadir é uma coisa, mas não respeitar o ambiente e a saúde das pessoas é inaceitável.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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