“Quem vai ao mar, avia-se em terra!”

Escrito por Pedro Crespo

Viajar é uma das experiências mais enriquecedoras que o ser humano pode ter. Desligar da rotina e ir conhecer novos locais, climas, culturas e povos, enquanto nos inebriamos com cores e cheiros nunca antes sentidos é altamente gratificante.
Após anos de pandemia, em 2023 voltou a ser observado um volume de viajantes próximo dos valores pré-pandémicos, com cerca de 1.300 milhões de pessoas a movimentarem-se pelo globo. Sendo possível viajar para a face oposta do planeta em menos de 48 horas, nem a idade nem a existência de doenças crónicas são limitadoras.
Contudo, dependendo do destino, há riscos que temos a obrigação de conhecer, discutir e prevenir. Estes dependem do itinerário da viagem e sua duração, bem como das atividades a desenvolver, tipo de alojamento e alimentação disponível no destino. Além disso, os antecedentes pessoais, medicação crónica, histórico de alergias e forma física dos viajantes são fatores de primordial importância para um aconselhamento adequado.
Os medicamentos e vacinas para prevenção de determinadas patologias são importantes, mas mais importante ainda é transmitir as medidas de prevenção com impacto transversal a várias patologias. Por exemplo, a utilização adequada de repelentes pode prevenir quase todas as doenças transmitidas pela picada de insetos. O consumo preferencial de bebidas engarrafadas e de alimentos bem cozinhados são medidas que evitam grande parte das doenças transmitidas por ingestão de água e/ ou alimentos contaminados.
Tem noção de que uma das principais causas de complicações durante as viagens são acidentes de viação? Mais do que a diarreia do viajante ou as picadas de insetos? Já pensou que será útil levar a sua medicação habitual na bagagem de mão, para não correr o risco de a perder em caso de extravio de malas?
É sobre todos estes aspetos que uma consulta de aconselhamento pré-viagem se deve debruçar. No fundo, numa avaliação de risco. Não haverá nunca risco zero, mas, para viajar em segurança, não terá de tomar todas as vacinas disponíveis no mercado. Mais do que uma lista de vacinas e medicamentos a tomar, esta consulta deve facultar aconselhamentos relativos a todos os fatores enunciados, de modo a que o viajante saiba os riscos para os quais deve estar alerta, como os prevenir e como deve proceder caso surja algum contratempo.
Num mundo em constante mudança, em que a prevalência de doenças em cada país vai evoluindo, é importante agendar a sua consulta pelo menos 4 a 6 semanas antes da partida, para que possa receber recomendações atualizadas para o seu destino.
Seguindo o ditado do título deste artigo, para que as recordações boas sejam as únicas a guardar, não se esqueça de marcar a sua Consulta de Medicina do Viajante.

* Infeciologista no Hospital CUF Viseu

N.R.: Esta secção é uma colaboração mensal do Hospital CUF Viseu, na qual os seus profissionais partilham conselhos e dão dicas sobre saúde.

Sobre o autor

Pedro Crespo

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