Para já, do novo Governo não se espera grande coisa. Aposta-se por todo o país na sua duração: até à votação do programa do Governo, à votação final global do Orçamento Geral do Estado para 2025, ou até à substituição de Aguiar Branco por Francisco Assis na presidência do Parlamento?
Ninguém parece apostar que resista até ao final da legislatura. Tem muito contra si, desde a inexperiência de Luís Montenegro à sua frágil maioria relativa, passando pelos inimigos que já acumulou ainda antes da tomada de posse, da extrema-esquerda a André Ventura. Não devemos esquecer aqui o previsível calculismo do PS, sempre pronto a cobrar promessas e a comparar os números da dívida, do défice e do crescimento com os do tempo de António Costa, sempre atento às sondagens e à espera do momento ideal para fazer cair o Governo. Também o Chega irá entrar nesse jogo e a gritar uma proposta demagógica e impossível de cumprir por cada tímida tentativa do Governo em segurar todas as pontas e não perder a face, ao mesmo tempo que procura implementar alguma coisa do que prometeu em demasia.
Nunca como agora vai haver tanta gente atenta ao cumprimento das promessas e nunca como agora vai haver menos desculpas para se não cumprirem. Afinal, chegámos a este ponto, de boas contas públicas e superavit depois de uma pandemia e no decurso de duas guerras. Imagino a discussão no Parlamento em novembro de 2025, a não ter havido ainda novas eleições: “Afinal, em vez de cumprir o prometido V. Excia. limitou-se a espatifar as contas públicas! Demita-se, Senhor Primeiro-ministro, que o país não suporta mais tanta incompetência!”
Mas talvez não. Talvez a coisa corra um pouco melhor. Trump pode não ganhar em novembro, não tornando tão urgente o aumento da despesa com as forças armadas. Os sindicatos podem ter um clarão de lucidez e baixar as suas expetativas, ou ao menos deixar que o tempo do cumprimento das promessas que receberam se prolongue por toda a legislatura. A Comissão Europeia pode fechar os olhos a dois anos de défice excessivo, talvez com a atenuante dos saldos orçamentais positivos dos últimos anos de António Costa. Pode até acontecer que André Ventura tenha um ataque de bom senso, consiga disciplinar a sua bancada e altere a estratégia do Chega para uma oposição construtiva embora colaborante, sempre com o interesse nacional como prioridade máxima.
Mas que esperar? A não ser que o Governo caia, podemos para já contar com uma redução de impostos, mesmo antes da apresentação do Orçamento para 2025. É que se este for reprovado no Parlamento irá contar como trunfo na campanha eleitoral seguinte. O mesmo com as valorizações salariais de professores, forças de segurança, médicos e outros, mesmo que haja uma tentativa prévia de negociar essas valorizações de modo a diluí-las pela legislatura. A lógica é no fundo a mesma da descida de impostos: se houver mais dinheiro a circular na economia irá aumentar o PIB. O PIB ou a inflação, mas para já a prioridade é a sobrevivência.
E aqui, na Beira Interior, que podemos esperar de especial do novo Governo? Nada. Nem sequer a eliminação das portagens na A23 ou na A25. Para a estratégia de sobrevivência que se está a desenhar não somos importantes. O distrito da Guarda, com os seus 141.000 habitantes, não tem peso suficiente numas eleições antecipadas e não irá valer mais do que umas palavras de circunstância.
Que esperar do novo Governo?
“Nunca como agora vai haver tanta gente atenta ao cumprimento das promessas e nunca como agora vai haver menos desculpas para se não cumprirem.”