Na semana que passou e nesta há apenas quatro dias de trabalho, ao menos para os trabalhadores por conta de outrem. É muito agradável, ao ponto de se começar a discutir a perpetuação da prática. Eu também gostava, como creio que gostaríamos todos, na condição de manter o rendimento, de poder reformar-me na data prevista e de ver as necessidades gerais satisfeitas. Mas será possível?
Recordemos que a idade da reforma tem aumentado à medida que aumenta a esperança de vida. A sociedade está mais velha: se somarmos as idades de todos os portugueses e a dividimos pelo nosso número, e compararmos com anos e décadas anteriores, concluiremos que a média de idades tem aumentado. Precisamos por isso de trabalhar mais anos, não só porque a Segurança Social não consegue suportar o custo de nos reformarmos mais cedo, mas também porque o trabalho dos que se não reformam é necessário. Essa necessidade sugere por isso a inviabilidade da redução generalizada da semana de trabalho para quatro dias.
Mas há os que inevitavelmente se reformam. Uma grande percentagem dos professores está à beira de o fazer e os jornais noticiavam há dias que o mesmo vai acontecer com boa parte dos funcionários públicos. Bem sei que a semana de quatro dias não está pensada para o setor público, mas a média de idades dos trabalhadores do setor privado reflete também o envelhecimento geral da população. A imprensa lembrou-se dos professores e dos funcionários públicos em particular, mas se procurarem por entre os trabalhadores da metalurgia, da construção civil, da agricultura, irão de certeza concluir o mesmo.
E o rendimento? Depois de dois anos de Covid, que ainda não acabou, na pendência de uma guerra, dos restos das várias crises financeiras, acham mesmo que as empresas estão em condições de pagar o mesmo por menos dias de trabalho? Dir-me-ão que é uma questão de produtividade. Certo. Eu também não me importava de concentrar todo o trabalho da semana em menos dias para ter mais tempo livre. Não sei é como garantir a mesma qualidade de trabalho no final do quarto dia de dez horas. Para além disso ainda ninguém explicou como resolver o tal problema da produtividade. O aumento das horas de formação e os muitos milhões gastos nessa área parece terem resolvido até agora muito pouco. Também não se vê como se possa melhorar alguma coisa com sucessivos cursos de higiene e segurança no trabalho, todos iguais.
A redução da semana de trabalho seria possível e desejável e levaria a que as empresas tivessem de contratar mais gente, dizem alguns. Isso resolvia o problema da produtividade, uma vez que os dias em falta seriam compensados com o aumento do número de trabalhadores, mas continua por resolver a questão da viabilidade económica da proposta. E há, claro, outro problema: aproximamo-nos do pleno emprego e, como se começa a ver em muitos setores, falta mão-de-obra.
Em suma, entramos aos poucos na “silly season”, e que saudades tínhamos de uma a sério, com problemas da treta e discussões leves e borbulhantes.
Quatro dias de trabalho por semana?
“Bem sei que a semana de quatro dias não está pensada para o setor público, mas a média de idades dos trabalhadores do setor privado reflete também o envelhecimento geral da população.”