Quatro a fazer diferença

Escrito por Diogo Cabrita

«O Estado não eleito, o que se compõe de instituições e funcionários zelosos e briosos, parece estar a brilhar. Esse é o aparelho onde a democracia se garante»

Já vi histórias com todos contra. Não recordo todos sim. Por essa razão os consensos são difíceis e transportam custos de oportunidade. Há por vezes elogios necessários, mas ninguém só fez bem, ninguém só teve virtude: no mais santo cai a nódoa. Serve este introito para um conjunto de “salve maravilhas” que terão sempre umas interjeições e uns impropérios. Começo por Rómulo Mateus, o atual diretor dos serviços prisionais, que tem aportado um modo de ver mais moderno, podendo ficar para a história como a lufada de ar fresco que as prisões precisavam. Investiram para manter as visitas e garantir a dignidade funcional. Libertaram-se os de maior risco para a Covid-19 na primeira vaga. Há diálogo. Falta muito para não vivermos num sistema punitivo, mas sim numa opção curativa, educadora. Rómulo Mateus está a construir a diferença.

Elogio também para o estudo do King’s College London com os nossos vários IPO que entra num tema melindroso: o encarniçamento terapêutico que em Portugal já raia a loucura. Bárbara Gomes, investigadora, desabrocha valores como um terço dos doentes oncológicos serem submetidos a cirurgia nos trinta dias que antecedem o falecimento.

Luís Aguiar Conraria alerta-nos para o excelente trabalho que suspeita estar a sair do regulador ANACOM e explica como Cadete de Matos, presidente da ANACOM, trouxe boas ideias de Londres onde trabalhou no regulador de comunicações. O concurso para o 5G está a irritar os nossos operadores sanguessuga. Grande texto no “Expresso” de 20/11/2020.

Também parece ser importante destacar o empenho e dedicação de Mariana Sousa Machado, juíza do Tribunal de Santarém que está a tentar evitar a prescrição dos processos movidos contra as coimas da Autoridade da Concorrência a vários bancos. Há mesmo um que goza de mais fina malha, que é o Montepio Geral do tempo de Tomás Correia. O Estado não eleito, o que se compõe de instituições e funcionários zelosos e briosos, parece estar a brilhar. Esse é o aparelho onde a democracia se garante: nos reguladores, nos diretores de sistemas funcionais, nos provedores e procuradores. Foi assim que o regime americano resistiu a algumas leviandades de Trump.

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Diogo Cabrita

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