Portugal confronta-se, há já alguns anos, com o desafio de competir internacionalmente na luta pela atração e retenção de talentos. Portugal tem tido tradicionalmente elevados fluxos migratórios, mas nos últimos anos este movimento tornou-se mais preocupante com a tendência de emigração de jovens qualificados. Depois de anos investidos em formação (licenciaturas, mestrados, doutoramentos), Portugal assiste a um preocupante êxodo deste capital humano. Todos nós conhecemos jovens licenciados que emigraram ou pensam emigrar. Com o baixo desempenho da economia portuguesa, estes jovens qualificados encontram lá fora uma maior probabilidade de encontrar um emprego alinhado com os graus académicos obtidos e uma possibilidade de melhorar consideravelmente as suas condições de vida. De acordo com o Índice de Competitividade Global, Portugal está entre os países do mundo com menos capacidade de reter os seus recursos humanos mais qualificados.
O projeto “Brain Drain and Academic Mobility from Portugal to Europe” envolveu diferentes universidades portuguesas e concluiu que cerca de metade dos jovens inquiridos que emigraram considera pouco ou nada provável um regresso ao país de origem. Esta emigração definitiva tem um custo não apenas na perda do investimento na formação das pessoas que emigraram, mas também no efeito de inovação e desenvolvimento das empresas portuguesas e no agravamento da crise demográfica.
A circulação entre países pode ser muito positiva pelo contacto com outras realidades e metodologias de trabalho, mas do que aqui falo é da travessia do deserto que muitos licenciados, mestres ou doutores enfrentam até conseguirem uma oportunidade de emprego qualificado e justamente remunerado. As diferentes crises (a de 2008-2010, Covid-19, guerra na Ucrânia) têm afetado toda a sociedade portuguesa e uma das consequências visíveis é o agravamento das condições de vida, especialmente para os jovens cada vez mais talentosos. O que o país tem para lhe oferecer é falta de emprego compatível com as qualificações, emprego mal remunerado e altamente taxado e elevados níveis de insegurança e incerteza.
Em Portugal, os jovens qualificados dificilmente conseguem ganhar mais de mil e poucos euros líquidos, em consequência da baixa produtividade da economia que exige uma crescente carga fiscal para manter a máquina do Estado. No final do ano passado um relatório da OCDE (“Taxing Wages 2022”) mostra que a carga fiscal direta sobre o rendimento do trabalho é, em Portugal, muitíssimo elevada.
Muitos jovens emigram pela ausência de oportunidades de emprego que permitam o desenvolvimento pessoal e pela falta de expetativas profissionais. A emigração também está ligada à descrença na capacidade do Governo e das instituições políticas para reverter a situação. Vemos a perda deste capital humano que seria mais do que útil para o país. Este desperdício de talentos provoca, por exemplo, uma quebra na já reduzida taxa de natalidade e um envelhecimento da população. Provoca também a falta de mão de obra, a impossibilidade de reverter a baixa produtividade, o aumento da carga fiscal dos residentes para sustentar o funcionamento do Estado. Não deveria o país tomar medidas para impedir a partida destes jovens qualificados e esta fuga de talentos? Seria de esperar, por exemplo, que se baixasse a carga fiscal sobre o trabalho que, além de outros fatores, impede que os salários possam aumentar e influencia, pela negativa, o crescimento económico.
Embora as estatísticas existentes sobre este fenómeno sejam poucas (até porque, por exemplo, muitos jovens não comunicam formalmente a sua partida), é reconhecido, em estudos internacionalmente publicados nos últimos anos, que Portugal é um dos países europeus em que a fuga de cérebros mais se acentuou nos últimos anos. É urgente dar incentivos a estes jovens para que possam ficar e contribuir para o desenvolvimento do país. É imperativo dar mais oportunidades para aplicar e desenvolver as competências profissionais adquiridas na educação formal e reduzir a carga fiscal para que se possam aumentar os salários. É o que fazem alguns países que procuram atrair especialistas de qualquer lugar para satisfazer as suas necessidades. Portugal continua a perder cérebros para outros países onde, por exemplo, o investimento em investigação é muito valorizado.
Quando ouvimos falar do sucesso de um dos muitos investigadores portugueses no estrangeiro, devemos sentir orgulho mas também devemos perguntar porque é que ele teve que emigrar. Os cidadãos, e os jovens em particular, devem poder circular livremente, mas apenas porque o desejam e não porque são obrigados a abandonar o seu país devido à escassez de oportunidades. A solução deve passar pela valorização, reconhecimento e apoio aos nossos quadros jovens.
* Deputada do CDS-PP na Assembleia Municipal da Guarda