Puxar para o mesmo lado

Escrito por Santinho Pacheco

«Em vez destas manobras para consumo interno, o que se esperava de um partido político responsável é que fosse consequente e apresentasse propostas de alteração ao PRR, em fase de consulta pública»

Já não tenho idade e nunca tive feitio para, na política e na vida, lidar com a hipocrisia e o cinismo.
Vi nas redes sociais que no dia 3 de março, esta quarta-feira, a senhora ministra da Coesão Territorial, acompanhada pela senhora presidente da CCDRC, Isabel Damasceno, estarão, nessa qualidade, no distrito da Guarda e no concelho de Gouveia, onde inauguram investimentos, assinalam a
entrega de viaturas elétricas aos municípios da CIMBSE, etc. Tudo isto, é claro, financiado pelos fundos estruturais da União Europeia, via Governo português.

Numa ação coordenada de puro combate político, presidentes de Câmara PSD, o presidente (PSD) da CIMBSE, o presidente distrital do PSD, fazem um ataque violento ao Governo, acusando-o de abandonar o interior tendo como pretexto o PRR – Plano de Recuperação e Resiliência, a que o primeiro-ministro chamou bazuca.

Toda a demagogia mais primária do inesgotável arsenal do PSD/Guarda é dirigida diretamente ao Governo, mas parece que pretende poupar a ministra Ana Abrunhosa. Na verdade, seria masoquismo puro a senhora ministra, de convidada para a festa, se deixasse transformar no bombo da festa…

A ministra da Coesão Territorial tem que aproveitar o momento para clarificar posições e desmentir, de uma vez por todas, o discurso oficial do PSD/Guarda e dos seus eleitos, dizendo, sem tibiezas, que são falsas as insinuações de que o interior é absolutamente esquecido ou ignorado no PRR e nos apoios ao investimento, como, aliás, as tais inaugurações de 3 de março parecem confirmar.

Só assim entendo que, como deputado, não tivesse sido convidado para estas jornadas de evidente propaganda partidária. A senhora ministra Ana Abrunhosa é parte integrante de um Governo e solidária com a sua política; não pode consentir que a sua presença seja instrumentalizada para dar corpo à
estratégia da oposição do PSD/Guarda.

Não há dois Governos, o do PS para combater e o de Ana Abrunhosa bem tolerado, que, pelos vistos, quer, mas não a deixam fazer… Ridículo e intolerável para a idoneidade pessoal e política da ministra, uma atitude de chico-espertice e falta de vergonha já habitual nos tempos recentes do PSD/Guarda.

Em vez destas manobras para consumo interno, o que se esperava de um partido político responsável é que fosse consequente e apresentasse propostas de alteração ao PRR, em fase de consulta pública. A plataforma ferroviária e o “porto seco” da Guarda são investimentos que nos parecem consensuais; como é urgente um estatuto especial para os territórios transfronteiriços que evite que qualquer pandemia leve ao encerramento de fronteiras internas na União, pondo em causa a ideia da Europa.

Pronto! Todos conhecemos o sapo que queria ser boi… A Guarda não precisa de se pôr em bicos de pés para ser verdadeiramente alta. Senhores do PSD, deixem-se da mania de grandezas. Será pedir muito que, agora no PRR, vamos todos puxar para o mesmo lado?

 

Santinho Pacheco
Deputado do PS na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda

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Santinho Pacheco

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