O antigénio específico da próstata (PSA) consiste numa enzima produzida pela próstata. Sendo um marcador tumoral, é frequentemente interpretado pela população geral como uma ferramenta útil para o diagnóstico de neoplasia da próstata. No entanto esta não é a realidade.
Apesar da sua designação, o PSA não é exclusivamente produzido a nível prostático, sendo sintetizado em quantidade menor por outras glândulas do organismo. Mesmo quando a origem deste aumento é a próstata, existem patologias benignas, de que são exemplo a prostatite e a Hipertrofia Benigna da Próstata, que resultam numa elevação deste marcador sem que exista uma neoplasia subjacente.
O doseamento do PSA total associado à palpação prostática (através do toque retal), como forma de rastreio de indivíduos sem sintomas sugestivos de patologia prostática, não parece uma estratégia eficiente. Pode resultar num diagnóstico precoce de cancros da próstata pouco agressivos e de evolução lenta. Isto pode conduzir a tratamentos não essenciais, com efeitos adversos importantes e com repercussão na qualidade de vida. Além disso, este rastreio não diminui de forma significativa a mortalidade.
A determinação do PSA mostra-se relevante, no entanto, na vigilância de indivíduos com o diagnóstico estabelecido de neoplasia da próstata. Tem também interesse em indivíduos com história de cancro da próstata em familiar de primeiro grau. Por último, pode ser útil no estudo de uma potencial patologia prostática quando surgem sintomas sugestivos. As principais queixas neste contexto consistem na sensação de esvaziamento incompleto da bexiga, dificuldade em iniciar a micção ou esforço para urinar, jato urinário intermitente ou fraco, urgência (dificuldade em conter a urina), aumento da frequência urinária e noctúria (necessidade de acordar durante a noite para urinar).
Assim, não está recomendado o rastreio de neoplasia da próstata com base no PSA. Apesar disso, o doente deve discutir os riscos e benefícios deste rastreio com o seu médico assistente. Depois de devidamente informados e se assim optarem, poderão ser submetidos, entre os 50 e os 75 anos, à determinação deste marcador tumoral e, consoante o seu valor, à palpação prostática.
Bárbara Oliveira
Médica interna na USF “A Ribeirinha”, tendo como orientadora a dra. Cláudia Pimpão
N.R.: A rubrica “ABC Médico” é da responsabilidade do grupo de Internato Médico da ULS da Guarda e pretende aumentar a literacia em saúde na área do distrito da Guarda. O objetivo desta coluna mensal é capacitar a comunidade a fazer parte integrante do seu processo saúde/ doença, motivando-a para comportamentos de vida saudáveis e decisões adequadas. Para tal, são escolhidos temas pertinentes que serão apresentados por ordem alfabética.