Vários autores e publicações definem “provincianismo” como «maneira, costume, locução ou sotaque peculiar de uma província, ou então, uma característica, modo de pensar, próprios de uma província». Outros há que levam este conceito um pouco mais longe, designando-o como uma «devoção à própria província em detrimento da nação como um todo», centrando o foco no local em detrimento do nacional. Mas há também quem considere o termo de forma pejorativa, apontando para uma «tacanhez ou estreiteza de espírito resultante da falta de contacto com actividades culturais ou intelectuais».
Já Eça de Queirós dissertava ácida e pejorativamente sobre o provincianismo em “Os Maias” mantendo-se, infelizmente, essa crítica tão actual hoje em dia como o foi em pleno século XIX. Também Fernando Pessoa escreveu sobre o tema, dizendo que «O provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela — em segui-la pois mimeticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz».
E pego precisamente neste último pensamento, designadamente na parte que diz «…pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela…» para fazer a transposição para o que actualmente se passa na Guarda. Com o alto patrocínio e efusivo beneplácito do executivo autárquico guardense, caminhamos despreocupada e alegremente para um provincianismo cada vez mais enraizado e com tiques do Portugal do fado, futebol e Fátima.
Se percorrermos as redes sociais da edilidade ou vermos notícias sobre o desempenho da mesma, há três elementos que andam sempre presentes, nomeadamente, os comes e bebes, o acontecimentozinho sem grande importância e o culto da imagem do presidente. Este é o mesmo tipo de política que se fazia durante o Estado Novo. Felizmente esses tempos já lá vão e Portugal é hoje um país europeu em pleno século XXI. No entanto, parece que a Guarda parou no tempo, ou melhor, regrediu através de um portal cósmico aberto em 26-09-2021 que a teletransportou para os anos 50/60 do século passado.
Que obras ou decisões estruturantes (à excepção dos Passadiços do Mondego, que foram uma herança quase acabada do anterior executivo) se encontram implementadas, estão hoje em curso, ou se perspectivam que venham a ser executadas no curto/médio prazo na Guarda? Desconheço.
No entanto, para cúmulo já não digo do provincianismo, mas da parolice, resolve-se fazer uma “viagem de estudo” (com o intuito, e muito bem, de absorver as boas práticas de outros municípios) a dois dos concelhos mais atrasados do país e que de boas práticas autárquicas nada se conhece, mas que têm estruturas de restauração de qualidade onde o senhor presidente da Câmara, com o dinheiro do erário público, ou seja, de todos nós, lá vai fazendo campanha eleitoral, confraternizando com presidentes de Junta e outros convidados, num ambiente informal e propício para o aliciamento político. É este o modelo de governação que temos hoje em dia na Guarda.
Muito sinceramente e politiquices à parte, apesar de tudo, sempre pensei que a Guarda pudesse manter um pouco, já não digo todo, do dinamismo que vinha sentindo nos dois mandatos do PSD. Pelos vistos, não só foi incapaz de manter esse ritmo como o inverteu perigosamente para um abismo de onde dificilmente será difícil sair.
E este manto nefasto de provincianismo que cada vez mais se agarra à Guarda como o musgo se agarra ao granito e é asfixiador do dinamismo e do desenvolvimento do concelho, permitindo apenas a sobrevivência política de alguns que, a todo o custo, tentam manter um poder para o qual não estavam preparados.
É este o destino que ambicionamos?
* O autor escreve ao abrigo dos antigos critérios ortográficos