É só um lamento, incontido, pouco mais. De um lutador com experiência antiga, que ainda se dá ao trabalho de comparar os tempos. Que não se acomoda, por ter memória de coisas que não devem ser esquecidas, de como estão abandonados os valores e as causas por que lutámos, todos, lado a lado, na mesma trincheira do distrito da Guarda.
Lembro-me dos debates, da controvérsia, da exigência política acerca dos planos de investimento público na região. Recordo os combates travados à frente de manifestações populares para garantir a continuidade de serviços.
Tenho memória do risco, do drama, do combate, do debate, de tempos magros e de carência, onde não havia lugar para a trégua. Hoje em dia, na época da colheita, quando muitas dessas batalhas já foram ganhas, já são poucos os que estiveram nesses combates e nessa trincheira.
É só um lamento, incontido, pouco mais.
Nestes tempos novos, já ninguém questiona nenhum plano de investimento público. Nem do Estado, tão pouco nas autarquias locais. O que se reclama é o conhecimento e a divulgação pública do programa das festas do próximo ano.
O ponto onde está a nossa exigência!
E todavia, a desertificação acelera, a população diminui a um ritmo sem precedentes, a economia definha, o investimento privado pouco existe e a alavanca do investimento público não aparece.
Este jornal anunciou na primeira página de uma recente edição que 11 postos dos CTT irão fechar em sedes de concelho. É apenas um exemplo, que aliás no passado recente também aconteceu noutros domínios, na Justiça, na Saúde e onde está a exaltação, a manifestação, a luta, o combate, o bater do pé?
Onde estão as medidas anunciadas para o interior que se perderam no nevoeiro ou se esgotaram na publicidade, como hoje se usa?
É só um lamento, inconformado. Pouco mais.
Claro que aparece sempre alguém a dizer que a culpa não é sua, mas do Governo e se for do mesmo partido, então será do Governo anterior. As armas são sempre e só um telemóvel para tirar a fotografia e um microfone para registar o momento.
O programa de festas há-de ajudar a esquecer!
A sensação é de abandono, a festa tem um sabor amargo, repetitivo, barulhento e o povo parece anestesiado, sem força para berrar mais alto que a música. A memória que resta antes deste ciclo é que não foram os que ficaram silenciosos, os que não participaram do debate, os que não estiveram nas batalhas que fizeram o mundo que somos.
Hoje tudo parece demasiado macio, mole, sem chama, tipo português suave!
Por: Júlio Sarmento
* Ex-presidente da Câmara de Trancoso e antigo líder da Distrital do PSD da Guarda