Segunda-feira, o sol de Vilnius despontou a meio do dia. No parque dos Bernardinos, entre o mosteiro com o mesmo nome e o rio Vilnia, dezenas de crianças brincavam num parque infantil.
Quarta-feira, tarde amena de Primavera, com uma temperatura acima dos 15 graus. Na praça da Catedral, e nas ruas da cidade velha que a rodeiam, milhares de pessoas passeavam alegremente, em bandos. Os adolescentes juntam-se em magotes que chegam à dezena de espécimes.
Quinta-feira, cerca de 30 pessoas faziam uma fila que se estendia pela avenida Gediminas para aproveitar os saldos de uma loja de roupa.
Domingo de Páscoa, manhã soalheira. À porta de uma igreja da capital lituana, centenas de pessoas aglomeravam-se à saída da celebração da eucaristia.
A lei lituana do confinamento é semelhante à portuguesa. Dever de recolha ao domicílio, sair apenas em casos de necessidade absoluta. As escolas e universidades continuam fechadas – abriram esta semana apenas infantários e escolas primárias. Eu olho para esta gigantesca desobediência civil com alegria e um sorriso nos lábios. Aqui não se é multado por beber café ou comer sandes na rua, valha a santa liberdade. Não faço ideia se a polícia tem instruções ou vontade de multar e reprimir esta ânsia de rua que os habitantes de Vilnius demonstram. Mas parece-me certo que mesmo que quisesse, não tinha como.
Os adolescentes, impedidos de ir à escola, vão para as praças. As crianças, que até aqui não tinham para onde ir, enchem os parques infantis. Os adultos, entre o teletrabalho e o fim do expediente, aproveitam o tempo mais primaveril com passeatas pela cidade.
Como me dizia um habitante autóctone, é uma espécie de risco calculado, já que «a probabilidade de apanhar vários dias de sol durante o mês de Março é bem menor do que apanhar Covid-19». E alguma razão teria, porque no sábado de manhã voltou a nevar.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
** Nuno Amaral Jerónimo está em Vilnius a convite da Vilnius Tech University