Uma televisão não bizarra escolheria entre os mais de 300 presidentes de Câmara, os mais de 300 presidentes de clubes de futebol, os mais de 2.000 presidentes de associações de interesse público, os mais de 500 presidentes de fundações, os mais de 1.000 diretores de entidades públicas, os mais de 50 presidentes de Unidades Locais de Saúde. Há ainda os diretores de grandes empresas, os bombeiros que dirigiram batalhas contra incêndios, os escritores, os arquitectos de obras incontornáveis, os projetistas de planos diretores municipais, os diretores de agrupamentos escolares, os ex-ministros, os donos do Coliseu dos Recreios, do Altice Arena, os CEO de grandes empresas, os donos de multinacionais, os criadores da Via Verde, do Multibanco, do MBWay. Há uma imensidão de percursos fantásticos neste país. Davam entrevistas e documentários.
Uma televisão das trevas, os canais da mediocridade, as televisões do absurdo entrevistam o José Castelo Branco, vão procurar as concorrentes de programas televisivos, vão entrevistar jogadores de futebol, potenciam acontecimentos bizarros, comportamentos impróprios. A inversão do mundo está no que dizem ser o padrão de interesse do espetador. Nunca a falsidade foi tão longe. Há milhares de portugueses que se deleitam com comentários políticos, com entrevistas de gente poderosa, com exposição de mágicas viagens, com épicos momentos de conversa. O mal está na elevação da bizarria em vez da sofisticação da educação. É um truque que puxa pelo chinelo, que convida à mão na cinta, que liberta a vozearia mais imprópria com o intuito de produzir factos. As televisões criam personagens e constroem histórias que dominam e manuseiam aos seus interesses. Há sempre negócio por detrás disto. Não são as audiências que escolhem, são as TV’s que constroem a exposição e potenciam o tipo de ouvinte.
Pessoas para entrevistar
“As televisões criam personagens e constroem histórias que dominam e manuseiam aos seus interesses. Há sempre negócio por detrás disto.”
