Hoje estamos num mundo diferente e com um conjunto de inimagináveis desafios para o futuro.
De um dia para o outro – fruto da atual pandemia – tiveram que ser tomadas medidas de distanciamento físico, implementadas reformulações e ajustes nos processos de trabalho, paralisadas múltiplas atividades e serviços, rentabilizados recursos humanos e técnicos, assegurado o aproveitamento mais aprofundado das novas tecnologias da informação.
Naturalmente que estas mudanças, indispensáveis, implicam a consciencialização do cenário que atravessamos; evidenciam a necessidade de uma forte determinação em assumir o espírito da informação na sua plena essência, sem esquecer a inovação indispensável.
Ao longo das últimas semanas têm sido inúmeros os apelos para haver uma postura atenta e crítica perante as falsas notícias, veiculadas especialmente através das redes sociais, de forma a «introduzir a falsidade ou o medo, como estratégia para alcançar notoriedade», como sublinhou a Comissão Episcopal da Cultura, dos Bens Culturais e das Comunicações Sociais da Conferência Episcopal Portuguesa.
Daí o realce dado à importância e ao esforço dos profissionais da comunicação social, pois nestas circunstâncias é de extrema necessidade a exigência de verdade e de informação. De recordar, a propósito, que também no início do passado mês, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) aprovou um conjunto de normas orientadoras com vista a serem incentivados padrões de boas práticas, por parte dos media, na cobertura de doenças e situações epidémicas.
O Conselho Regulador dessa entidade relembrou o papel da comunicação social no alerta e informação ao público, em matéria de saúde pública. «Sobretudo se elas configuram emergências, desencadeadoras de estados de inquietação e nervosismo entre o público, caracterizáveis como de generalizado alarme», pelo que, acrescentava, «se justificam cuidados redobrados na confirmação da veracidade da informação».
O Conselho Regulador da ERC apelou aos órgãos de comunicação para uma redobrada atenção em situações que possam causar alarme social. Nessas normas orientadoras destacou que «o tratamento jornalístico de questões de saúde pública, epidémicas ou não, deve assegurar escrupulosamente os deveres de rigor, abstendo-se da formulação de juízos especulativos e alarmistas, da divulgação de factos não confirmados». Por outro lado, alertou para a necessidade de ser garantido «o respeito pela proteção da identidade e a reserva sobre a intimidade da vida privada dos doentes e das suas famílias».
A ERC lembrou, no que diz respeito às fontes de informação, que devem ser privilegiadas as fontes especializadas oficiais, mas sem prejuízo da sua verificação/ confrontação com outras; entre as fontes de informação especializadas sublinha-se a importância de dar prioridade às científico-médicas, e entre estas a serem «o mais possível diversificadas».
Há duas semanas atrás a Federação Internacional de Jornalistas apelou, igualmente, a uma cobertura mediática, por parte dos meios de comunicação relativamente ao novo coronavírus, sem «pânico justificado», de forma a evitar «abordagens sensacionalistas» e «teorias da conspiração». Para esta federação mundial de sindicatos de jornalistas, que representa 600 mil profissionais, o papel dos media na cobertura desta pandemia é «fornecer aos cidadãos informações verificadas, precisas e factuais, evitando dados sensacionalistas que podem levar ao pânico geral e ao medo».
Assim, o posicionamento noticioso e a definição clara das fontes de informação, essenciais e credíveis, permitem o suporte seguro para o trabalho esperado pelos leitores de hoje e de amanhã. Ultrapassada esta conjuntura ímpar e preocupante, há que olhar para o futuro e perspetivar rumos, sem esquecermos que vão ser necessárias medidas de apoio para a comunicação social; necessidade já reconhecida, entre outras associações e organizações, pela Confederação Portuguesa dos Meios de Comunicação Social. Numa altura em que o país atravessa «uma situação nunca antes vivida», importa garantir que a comunicação social, «nomeadamente os órgãos de âmbito local», possa continuar a cumprir as suas funções de informar e de manter acompanhados todos aqueles que agora estão sujeitos a um ainda maior confinamento e isolamento social, sendo que ajudar a comunicação social local a manter-se em funcionamento é «uma medida de interesse nacional».
O seu papel continuará a ser de grande importância, aliado a uma eminente função pedagógica que passa, nomeadamente, por implementar a consciencialização dos deveres e cuidados do cidadão face a situações de emergência.
Hoje o perfil da emergência foi o que todos sabemos, mas se numa situação futura (que desejamos nunca ocorra) houver um corte prolongado de energia elétrica, por exemplo? Estamos preparados para receber a informação? As rádios locais (que podem constituir-se como verdadeiras antenas da proteção civil) estão equipadas com geradores que lhes permitam as emissões e a consequente difusão das orientações/ recomendações por parte das entidades competentes? Qual a percentagem de cidadãos que têm tomado devida nota da necessidade de um “kit de emergência” (onde nomeadamente, estejam produtos para necessidades básicas, medicamentos, máscara, cópias de documentos de identificação, um rádio portátil e lanterna com pilhas extra, etc,)? Não temos que ser apenas agentes de saúde pública (como se tem apelado, embora haja ainda alguns a assobiar para o lado…) mas também de proteção civil.
Este tempo de pandemia deve ser também de profunda reflexão, espírito de solidariedade e cooperação, determinação em superar as dificuldades, de valorização dos vários setores profissionais, de medidas objetivas e de preparação (a possível, é óbvio) para novas ocorrências, onde a informação credível e imediata será sempre necessária.
N.R.: Por falta de espaço, esta crónica não foi publicada na semana passada.