Perspectivas para 2019 – A minha visão: Internacional, Nacional e Regional

Sumário: Neste arranque de ano é sempre útil falar das perspectivas que antevemos para esse mesmo ano, seja a nível internacional, seja local. É isso que procuramos deixar aqui: a nossa visão sobre a realidade económico-social no p.f.

Internacional: A nível internacional há alguns riscos a que gostaríamos de fazer referência: os riscos decorrentes das Guerras comerciais EUA-China e EUA-UE, da crise imigratória da UE e dos EUA, da desestabilização política das democracias liberais. Olivier Passet, no La Tribune chama-lhe “os 3 desastres de 2019”. Outras preocupações e Riscos são ainda A evolução da União Europeia, a situação para a UE no caso de um Brexit sem acordo, as eleições sob um fundo do crescente populismo e, finalmente, a capacidade da China de manter a sua posição na economia mundial, riscos partilhados com Laurence Daziano (Quais os riscos globais para 2019).
Nacional: A nível dos macro – indicadores (nacionais) prevê-se que o PIB – embora abrandando alguma coisa continue a crescer à volta de 2% (BPortugal, CE, Eurostat, FMI, OCDE, …); que o Consumo publico continue em baixa por causa das cativações relacionadas com o controle do déficit; que o Consumo privado continue em alta animada pelas baixas taxas de juro embora com algum abrandamento face aos últimos tempos; que as Taxas de juros ativas continuem muito baixas o que é bom para estimular o investimento e o consumo privados; que a Poupança privada, com estes juros tão baixos (0% nos financiamentos praticados pelo BCE) não estimulem os aforradores que têm que procurar outras alternativas aos tradicionais depósitos – com taxas de juro de 0.2 ou 0.3%, ou até menos, quem quer depositar o seu dinheiro no banco? E depois queixam-se que temos uma das mais baixas taxas de poupança do mundo!…; que o Investimento público que tem sido muito baixo vá certamente continuar assim em 2019 por força das limitações orçamentais e dos controlos do déficit e da dívida pública; que o Investimento privado continue em alta impulsionado pelo IDE-investimento direto estrangeiro, pelas baixas taxas de juro e pelo baixo nível salarial e abundância de mão-de-obra barata, educada e bem-comportada; que o sector do Turismo, embora esteja já a passar a fase de euforia vivida pelo sector – decorrente da reabertura dos mercados turco e do norte de África -, mas continuando Portugal na moda, será de esperar a construção de mais unidades hoteleiras em todo o país e taxas de ocupação muito elevadas em todos os estabelecimentos hoteleiros, logo mais um bom ano para o turismo; que a Indústria continue numa fase ainda agonizante e de adaptação à UE e à globalização, sem grande animação o que é pena pois precisamos muitos dos seus postos de trabalho; que a Construção e imobiliária continue a renascer da crise do subprime ou das hipotecas – havendo até já quem fale em nova bolha imobiliária, ponto de vista que não subscrevemos – agora com maior aposta na reabilitação de edifícios antigos, nomeadamente nos centros históricos (para jovens e estudantes em parte) mas também em construção nova pois já se vêm em movimento muitas das gruas que tinham parado nos anos 2008/9 e até novas urbanizações; que os Serviços continuem a ser o principal empregador de todos os sectores económicos como é habitual em todas as economias ditas desenvolvidas animada pela imobiliária, entre outros e que a Agricultura, pecuária e florestas beneficiem de alguma retoma, com novas culturas e novas técnicas de produção e com a reflorestação depois dos incêndios dos últimos anos, mas com pouca capacidade de criação de emprego.
A nível social e no âmbito nacional prevê-se que o Desemprego nacional desça abaixo do nível de 6.6% atual, (nível de 2002) e que a nível regional continue também em baixa, num e noutro casos esperando-se que se atinjam os níveis dos anos 90 (próximos do pleno-emprego); a esta trajetória descendente explica-se pelos salários baixos, pela boa formação da nossa mão-de-obra, pelo seu pouco poder reivindicativo, em particular no interior, e pela alteração da legislação laboral levada a cabo nos tempos da troika e que muito tem facilitado a vida às empresas por ter agilizado quer a sua contratação quer a sua dispensa; o Clima social, com duas eleições à porta neste ano – europeias e legislativas – mais as autonómicas, e a luta pelo poder entre as várias forças políticas – partidos, sindicatos e organizações corporativas – será de esperar um ano de muita instabilidade social com várias greves já anunciadas – enfermeiros, pessoal dos tribunais, professores, médicos, autoridades policiais e até militares, restantes funcionários públicos…; e ao nível das Eleições a menos que haja algum fator imponderável será de prever que o PS venha a ganhar as eleições europeias e legislativas embora a ambicionada maioria absoluta nestas últimas dificilmente se venha a concretizar por força do avolumar das tensões e também das lutas entre os partidos que apoiavam o PS e que também eles desejam manter ou até aumentar o seu quinhão eleitoral e também os sindicatos que nestas alturas aumentam sempre o seu índice de contestação… e também das expectativas criadas junto de algumas organizações que pensam ou agem como se a crise já esteja definitivamente enterrada, o que não é o caso, e está mesmo longe de o ser pois basta lembrar que a dívida pública ainda atinge cerca de 125% do PIB quando no máximo deveria ser 60% segundo as exigências do Pacto do Euro…
A nível empresarial: e em termos de Criação de empresas: o barómetro empresarial indicará certamente a continuação da criação/nascimento de novas empresas, sobretudo de pequena dimensão como tem acontecido nos últimos anos; simultaneamente em termos de Liquidação de empresas, o ritmo de encerramento/fecho de empresas deverá manter-se mais ou menos como tem estado a acontecer desde que se passou a pior fase da crise; também ao nível das empresas com processos de insolvência não prevemos o seu agravamento, prendo antes que a tendência de estabilização se irá manter.

A nível regional/local
A nível regional e local não se preveem grandes alterações: vai continuar o processo de desertificação, de envelhecimento, de falta de empresas e empregos, a fuga dos jovens para o litoral e o estrangeiro em busca dos empregos que o interior lhes nega…, um crescimento desigual no litoral e interior, mas desfavorável a este, eventualmente a vinda de alguma empresa mão-de-obra intensiva para o interior, …; no âmbito da demografia ou parque empresarial continuará a criar-se algumas pequenas empresas e eventualmente a encerrar-se algumas maiores (sector automóvel (?)) embora em menor nº do que as criadas; na área social o desemprego regional e local espera-se que continue a decrescer – afastada que está a fase pior da crise de 2008/9/10…; ao nível do clima social no interior não se preveem grandes perturbações pelo pouco emprego, pela pouca politização e proletarização, e pela pouca implantação das estruturas sindicais na região (explicada pelo fraco tecido empresarial e emprego), …; nas portagens, continuaremos a debater e a contestar as portagens das AE23 e A25,… mas sem sucesso…; ao nível das Linhas da CP que servem a região Prevê-se a reabertura da linha da Beira Baixa, no troço Covilhã-Guarda, caso não haja derrapagens – o que nunca é de excluir…, algumas obras de modernização também na linha da Beira Alta e eventualmente a conclusão da interligação por autoestrada (A25) entre Portugal e Espanha, em Vilar Formoso, o que sendo bom por facilitar as ligações entre os dois países, é um drama para Vilar Formoso e Fuentes de Oñoro que verão fugir-lhes o (pouco) comércio que ainda resiste, em particular do lado de lá…; o turismo continuará bastante ativo na região com a abertura e/ou reabertura de novas unidades hoteleiras nalgumas localidades (como Manteigas) e outras de pequena dimensão, nos centros mais pequenos (turismo rural); esperamos a consolidação do sector da construção – nova e reabilitada – mas sempre com preços totalmente desfasados com os praticados no litoral, em particular em Lisboa, Porto e Algarve; também a imobiliária deverá continuar bem ativa, incluindo alguma animação no mercado de arrendamento; na agricultura, apesar do seu adormecimento, espera-se algum grande investimento nas frutas secas (amêndoas), nomeadamente na Beira Baixa, e o incremento ou aposta em novas plantações de vinhas e a produção de novos vinhos quer na Beira Interior quer na região de Dão-Lafões (próxima) onde alguns bons investimentos já estão em curso.
Desejos pessoais para 2019: Para terminar e o que eu gostava mesmo era que mais empresas se criassem no interior, que mais empregos, mais estáveis e melhor remunerados se criassem nas nossas terras – de forma que os jovens pudessem voltar ao interior e aqui pudessem viver, ter e educar os seus filhos – e que os que tiveram que emigrar pudessem regressar para junto das suas namoradas e namorados, dos seus familiares e dos seus amigos, que se estancasse o envelhecimento da população e a desertificação da região… Não é pedir muito, pois não?…

* Prof Catedrático, Economista, Responsável do Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social (ODES).

Sobre o autor

José Ramos Pires Manso

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