– Consegues escrever com a mão esquerda?
– Eu não
– Consegues coçar o nariz com o pé?
– Eu não
E seriam infindáveis as perguntas sem grande interesse para o mundo. Depois de muito trabalhar uma entrevista de uma personagem da televisão percebi que a toada se mantinha imparável. Um dia de perguntas sucedia-se a outro, sempre no domínio da palhaçada ou inutilidade. Pode construir-se um ser importante colocando-o no pequeno écran diariamente.
Ele jorrará simplicidades, futilidades, repetirá uns trejeitos que o tornarão imitável, repetível, caracterizável. Assim se constrói uma personagem mediática. Também há gente interessante, forte, gente produzida de sabedoria, de anos de leitura, que se afasta de uma toada de sis menores e de dós de alma. A música no pequeno écran é muito variada e chega sem definições, penetrando o bacoco com o estilizado, o subtil com o desnecessário. Programas cheios de audiência penteiam a vida como se fosse um salão de baile, outros pornograficamente violam a intimidade e desconsertam. Afasto-me cada dia mais dos canais generalistas e vou à procura de desporto, de cinema, de séries televisivas, de documentário.
Gostava dos debates, mas cansei dos protagonistas. Confesso que gosto do Jaime Nogueira Pinto e do Sérgio Sousa Pinto. Os Pintos estão mais ousados e livres. Depois há os do costume, que aparecem em painéis de riso fácil, de exagero crítico, de falta de bom gosto e de maledicência sem contraditório. Não vejo. Vão coçar com o pé o nariz e comer gelados com testa.