Pequenas Luzes de Natal

«Porque o sono do Inverno vai para além de risos e lágrimas, brilhantes inimigos próximos»

Aguardava desesperançado, e sem onomatopeias, pela vinda de qualquer desejo, como Estragon esperara, infrutífero, por Godot, na encruzilhada de um destino em que não acreditava com uma fortuna que não aparecia.

Sabia que o tempo – assim o enredo lhe fora ensinado – lhe houvera esgotado os créditos da felicidade. Era nos filmes e nos livros que lia os amores. Em novelos e novelas, era pelas histórias que se sentia amado.

Serenamente, sem ranger, alguém abriu a porta pesada da Alma que transportava. Trouxe palavras, carinhos, guardou poemas, ternuras. Sentaram-se juntos no chão, guiou-o ao seu altar. Ali lhe ofereceu o mundo em fascículos, desfolhando as páginas do destino.

Perguntou: Chega, o charme cego da esperança, o doce ciúme da dúvida, o escuro prazer do grito?

Respondeu: Transborda, o pedaço devoto de um abraço, a envolvente melodia das emoções, a absurda fome da confissão.

Porque o sono do Inverno vai para além de risos e lágrimas, brilhantes inimigos próximos. Entre parênteses, um hífen une o que ninguém separa.

Os mais incríveis sonhos juntam-se por inteiro em filmes, poemas e canções. Quando se aproximou, celestialmente, em desconhecimento e perfeição, era a revelação da verdade.

Cartografou-lhe o coração, envolveu-o em serenidade, acendeu-lhe a voz, roubou-lhe a solidão. Prometeu nunca mais partir.

Na sua beleza dedilhada, deitou-se e fez-se luz.

Será amizade? Será memória?
Ou compaixão? Ah, é amor?
Não importa, caro leitor.
Se esta é a sua história,
Aproveite, seja o que for.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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