Pensar o futuro

«os 13,9 mil milhões a fundo perdido que a Europa irá disponibilizar não poderão ser apenas para o litoral, para estradas, hospitais, habitação acessível e eficiência energética, apagar incêndios, o novo Banco de Fomento, hidrogénio, descarbonização, transportes públicos em Lisboa e Porto, novas linhas de metro em Lisboa e Porto, os computadores nas escolas, lítio, obras… e para manter a TAP»

Com esta edição apresentamos a lista das maiores empresas dos distritos da Guarda e Castelo Branco, com os dados oficiais disponíveis. Como é evidente, neste ranking ainda não são percetíveis as consequências da pandemia em que vivemos há um ano.

Mas, muito para além do Covid-19, a dinamização empresarial da Beira Interior continua a ser reduzida e dependente do investimento público – e é urgente pensar o futuro e acreditar no pós-pandemia como uma oportunidade a promover a partir de setembro.

A Coficab destaca-se de forma clara como a maior empresa do distrito da Guarda, mas também uma referência na indústria portuguesa (com 800 trabalhadores faturou 300 milhões de euros 2020). Faltam já adjetivos para classificar o trabalho de João Cardoso e da sua equipa – os homens e mulheres que trabalham na Coficab e fazem das fábricas do grupo na Guarda (duas unidades) um motor de crescimento do grupo. O centro de investigação e desenvolvimento da Coficab, que está na vanguarda do desenvolvimento da conetividade e condução autónoma, é um enorme motivo de orgulho para a Guarda e região. Como nos diz orgulhosamente o seu diretor-geral João Cardoso «a Coficab é o maior fornecedor de cabos elétricos para automóveis do mundo».

Estar no interior tem muitos custos de contexto, da falta de mão-de-obra especializada e dificuldade em atrair talento aos custos energéticos, dos custos de distância e do preço das portagens à falta de atratividade da região, são muitas as razões a pesar na instalação de empresas na região. São muitas as dificuldades e são poucas as facilidades para investir no interior…

Apostar no interior tem de ser uma opção estratégica e para isso tem de haver majorações facilmente percebidas, como a redução dos custos energéticos, a facilidade de acesso às redes, vias de comunicação sem custos, uma fiscalidade amiga e apoio direto às empresas.

A resiliência pode ser muito bonita para falarmos do esforço e altruísmo que é necessário para promover o emprego e o investimento no interior, mas não dá de comer a ninguém. E muito menos a quem pode escolher entre investir por cá ou ficar perto de Lisboa ou Porto.

A poucos dias do encerramento do Plano de Recuperação e Resiliência, fica um repto aos nossos autarcas e dirigentes de associações empresariais: exijam investimento no tecido produtivo, defendam mais do que o previsto investimento em equipamentos públicos, imponham o apoio à ambição empresarial, porque é aí que está o futuro e a criação de riqueza.

Olhem para o exemplo da Coficab e vejam como um centro de R&D na Guarda pode contribuir para a liderança mundial num sector altamente competitivo como a mobilidade (todos podemos influenciar o Plano: entre outros pontos, entregarei a “minha proposta”, que irá incidir na mobilidade, incluir o desenvolvimento de um veículo elétrico português, na ferrovia e no ambiente). Todos podem participar [Consulta – PRR – Plano de Recuperação e Resiliência (consultalex.gov.pt)], porque os 13,9 mil milhões a fundo perdido que a Europa irá disponibilizar não poderão ser apenas para o litoral, para estradas, hospitais, habitação acessível e eficiência energética, apagar incêndios, o novo Banco de Fomento, hidrogénio, descarbonização, transportes públicos em Lisboa e Porto, novas linhas de metro em Lisboa e Porto, os computadores nas escolas, lítio, obras… e para manter a TAP. Tudo isto pode ser importante, mas Portugal continuará a definhar e a ser ultrapassado se não escolhermos o caminho do desenvolvimento, da empresarialização, da qualificação e da ciência.

Sobre o autor

Luís Baptista-Martins

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