Não quero discutir a qualidade política de Luís Tadeu, nem as suas íntimas intenções, dando por certo que são ambas as melhores. Mas custa ver o presidente da Câmara de Gouveia e, no atual mandato, presidente da Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela, aventurar-se por caminhos errados que já foram recusados pelo voto dos cidadãos.
Na entrevista recente que deu ao “Jornal do Fundão”, Luís Tadeu defendeu a «evolução natural» para a «junção» das comunidades intermunicipais das Beiras e Serra da Estrela e da Beira Baixa.
Luís Tadeu não possui mandato dos outros autarcas da CIMBSE para sustentar tal posição – e, sendo circunstancialmente presidente da mesma, tem especiais responsabilidades institucionais. Se é só uma opinião pessoal, então demita-se do cargo na CIMBSE e exprima-a com liberdade democrática.
O ponto, no entanto, é que Luís Tadeu está a exprimir um desejo contra o qual as populações das Beiras e Serra da Estrela, e também as da Beira Baixa, votaram expressivamente no referendo de 1998. Nessa data, o povo votou contra a putativa Região da Beira Interior – a qual juntava, precisamente, os territórios das duas comunidades de municípios que Luís Tadeu quer agora unir. Foram 76,6% os que votaram contra!
Não se trata só de respeitar a vontade expressa nas urnas. A questão é perceber que, há 24 anos, a regionalização nesta parte do país foi recusada principalmente devido ao mapa regional então proposto. Ontem como hoje, as pessoas não se revêm nele!
Pela minha parte, não sou particularmente regionalista. Mas impressiona-me ver quem o é cometer hoje os mesmos erros do passado. E, por essa via, impossibilitar – de facto! – qualquer evolução do país para uma realidade regional que tem sido um instrumento de desenvolvimento de todos os outros países da Europa, a começar por Espanha, e que em Portugal tão bons resultados tem dado nos Açores e na Madeira.
É fundamental não repetir erros de 1998, sobretudo quando já se alargou o consenso à volta das cinco regiões-plano – Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve – consenso esse que envolve o PS e as lideranças anterior e presente do PSD – e é o único que o Presidente Marcelo já disse estar disposto a integrar. Descer desta escala só irá acicatar bairrismos.
Neste lento processo regionalista que está a ser construído sobre a descentralização de competências para os municípios que ainda decorre, a CIMBSE devia estar focada em objetivos exequíveis: trazer o futuro Parlamento Regional para a Guarda, por exemplo.
* Dirigente sindical