Outra vez… Almaraz

Escrito por Albino Bárbara

No dia 22 de junho de 2020 a unidade I da central nuclear de Almaraz teve de ser intervencionada a fim de proteger as turbinas do gerador elétrico. Cinco dias depois foi a unidade II a dar o berro.

Esta velha cafeteira, podre e enferrujada, com mais de 40 anos de funcionamento, teve já mais de 3.000 avarias. No ano passado parou, pelo menos, duas vezes. Os seus proprietários (Iberdrola, Endesa e Naturgy), ao que parece, vão continuar a manter licença por mais oito anos, laborando até outubro de 2028, quando o encerramento deveria ter ocorrido em 2010.

A maior central nuclear espanhola utiliza urânio para trabalhar. O seu potencial é tão grande que uma simples grama deste mineral enriquecido produz uma quantidade correspondente a uma tonelada de TNT. Os dois reatores em funcionamento têm capacidade para produzir qualquer coisa como 2.000 megawatts de potência. Em Arrocampo as águas do Tejo servem para arrefecer os reatores mesmo percebendo que este rio abastece inúmeros núcleos populacionais espanhóis, muito do nosso Ribatejo e a maior parte da área metropolitana da capital portuguesa. Seguem-se os resíduos, os tais de armazenagem duvidosa, com atividade durante umas boas centenas de anos e são, nem mais nem menos, que 50 metros cúbicos por ano e por reator. Depois são as reparações de material diverso com visível falta de qualidade em alumínio e magnésio.

Finalmente, em caso de fuga, como aconteceu em Fukushima, Erwin, Tricastin, Three Mile Island e Chernobyl, todos pagamos (ambiente e população). O que é libertado para a atmosfera é altamente corrosivo e volátil. Corrosivo causa desgaste. Volátil entra no organismo destruindo todos os tecidos, provocando grande incidência de cancros e malformações congénitas. O que aconteceu na semana passada em Almaraz deixa-nos extremamente apreensivos. É um perigo acrescido e as perguntas colocam-se: 

Espanha garante condições de segurança independentemente dos “pareceres” do Conselho de Segurança Nuclear Espanhol? A Comissão Europeia é a favor ou contra o encerramento desta velha e perigosa estrutura? As chamadas de atenção das associações ambientalistas e dos municípios espanhóis estão a ser tidos em conta? As posições unanimes tomadas na passada semana nas Assembleias Municipais de Castelo Branco, Portalegre e na Assembleia Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela vão ter eco junto do Ministério do Ambiente e dos grupos parlamentares da Assembleia da República, governo provincial e nacional de Espanha, quando pedem, mais uma vez, o encerramento imediato desta verdadeira bomba atómica que pesa sobre as nossas cabeças?

Pois bem. Não se lembrem, apenas e tão só, da tal dita ou bendita Santa Bárbara no exato momento que ouvem os trovões. É que aí é, com toda a certeza, tarde. Já mesmo muito tarde…

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Albino Bárbara

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