Otites no Verão

Escrito por Vera Aquino Soares

Com a chegada do Verão, estamos em contacto com a água de uma forma mais intensa, seja no mar ou na piscina, o que pode levar à ocorrência da otite externa, popularmente conhecida como otite do nadador.

A otite externa é uma infeção da pele do canal auditivo externo, que se estende desde o tímpano até ao nosso pavilhão auricular ou orelha. Felizmente este canal tem uma proteção natural contra as infeções: o cerumen (“cera”). O cerumen tão desprezado por todos é essencial à boa saúde do nosso canal auditivo externo, protegendo-o contra as agressões e impedindo o crescimento dos micro-organismos. Então, porque existe a otite externa? Quase sempre, por nossa causa. Porque causamos disrupção da continuidade da pele e abrimos uma porta de entrada para micro-organismos.

Sempre que manipulamos o nosso canal auditivo externo, principalmente se tentamos a remoção de cerumen, seja com cotonetes (de qualquer tipo) ou com os nossos dedos, removemos a proteção natural do canal e predispomos à ocorrência de infeção.

Mesmo a utilização de protetores auditivos ou auscultadores intracanalares predispõem a este problema, principalmente se utilizados durante muito tempo.

A permanência de água no ouvido, mesmo após o banho, pode contribuir para a remoção do cerumen e “macera” a pele, tornando-a mais suscetível à entrada e proliferação de agentes infeciosos. Os micro-organismos gostam de crescer num ambiente quente e húmido e a humidade retida no canal auditivo externo cria um meio perfeito.

Se sentir prurido (comichão) no ouvido; dor, que pode ser muito intensa e é exacerbada pela pressão no tragus (aquela pequena cartilagem que temos à frente da entrada do nosso canal auditivo externo); perda de audição (hipoacusia), com a sensação de ouvido cheio/tapado e drenagem de pus do ouvido, deve procurar aconselhamento médico.

A observação médica permite o diagnóstico correto, importante para o tratamento adequado.

Nestes casos, a terapêutica geralmente é local, com aplicação de gotas auriculares com antibiótico, anti-inflamatório ou antifúngico de acordo com o agente causal provável; se tiver pus, o canal deve ser limpo para permitir a eficácia da aplicação local das gotas e diminuir o ambiente húmido predisponente à proliferação dos micro-organismos.

Deve evitar-se a entrada de água no canal, a sua oclusão com tampões ou auriculares, e mais que tudo a sua manipulação e traumatismo.

O início precoce do tratamento evita a evolução para um quadro mais grave e doloroso. Por isso, não adie. Os hospitais estão disponíveis para responder às necessidades da população com toda a segurança. A dor de ouvido é indicação para procurar ajuda médica.

* Otorrinolaringologista do Hospital CUF Viseu

 

N.R.: Esta secção é uma colaboração mensal do Hospital CUF Viseu, na qual os seus profissionais partilham conselhos e dão dicas sobre saúde.

Sobre o autor

Vera Aquino Soares

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