Os planetas semelhantes à Terra e a zona habitável

Escrito por António Costa

“Se quisermos encontrar uma verdadeira Terra alienígena, como condição necessária (embora não suficiente), os dois critérios antes expostos devem ser válidos de maneira simultânea; isto é, um planeta deve ter mais ou menos o tamanho da Terra e encontrar-se na zona habitável.”

Há um grande número de exoplanetas, com diferentes massas, tamanhos, estruturas e parâmetros orbitais. A pergunta óbvia quando se chega a este ponto é: haverá algum que seja como a Terra? Descobriu-se uma Terra alienígena de verdade? De momento, a reposta é negativa. Porém, no que respeita a exoplanetas estamos apenas no início; a maior parte deles continua por descobrir e o seu número joga a nosso favor. Poderão existir numerosas Terras alienígenas. O seu número depende sobretudo do que entendemos por “como a Terra” e da exigência dos critérios de semelhança.
De facto, “como a Terra” pode significar duas coisas radicalmente diferentes. Primeira: tão grande como a Terra, ou seja, semelhante em massa e raio. Já conhecemos planetas deste tipo. Segunda: semelhante quanto às características ambientais. Este aspeto merece mais atenção. Em redor de cada estrela pode definir-se a chamada zona circum-estelar habitável, que é a região – ou o intervalo de distâncias à estrela – em que um planeta poderia potencialmente apresentar água no estado líquido. A localização da zona habitável depende da luminosidade da estrela e fica mais perto para as estrelas mais pequenas e mais longe para as estrelas brilhantes. Para estrelas do tipo do Sol, esta região estende-se de distâncias um pouco inferiores à distância Terra-Sol até distâncias um pouco superiores a esta. Há uma boa notícia: conhecemos muitos planetas nas zonas habitáveis e, numa estimativa por alto, podemos assumir que, em média, há um para cada estrela.
Se quisermos encontrar uma verdadeira Terra alienígena, como condição necessária (embora não suficiente), os dois critérios antes expostos devem ser válidos de maneira simultânea; isto é, um planeta deve ter mais ou menos o tamanho da Terra e encontrar-se na zona habitável. E com estas premissas temos vários candidatos: um deles é o planeta Kepler-452b, cuja descoberta foi anunciada em julho de 2015. Comparado com outros planetas conhecidos de tamanhos terrestres e na zona habitável, este planeta tem uma vantagem: orbita uma estrela quase idêntica ao Sol, a uma distância quase igual à da Terra ao Sol, ao ponto do ano durar 385 dias. Mas tratar-se-á realmente de um gémeo da Terra? As dimensões não são exatamente iguais. Em primeiro lugar, o raio é 1,6 vezes maior; não temos informação precisa sobre a massa e, por isso, não conhecemos a densidade nem a aceleração da gravidade da superfície. Também a composição da atmosfera é desconhecida. Este é um aspeto essencial e introduz o terceiro critério de semelhança com a Terra: não basta ter um tamanho adequado e ficar na zona habitável é preciso ter uma atmosfera parecida com a da Terra em densidade e composição. Isto garante um efeito de estufa moderado, mas não excessivo. Além disso, se na atmosfera houver vapor de água, dadas as condições adequadas de temperatura, será expectável a presença de água líquida na superfície. Na prática, como terceiro critério a cumprir, podemos introduzir o das condições ambientais similares às do nosso planeta. Qual a probabilidade de os três critérios – tamanho parecido, localização da zona habitável e semelhança ambiental – se cumprirem ao mesmo tempo? Há tantos exoplanetas que a força dos grandes números pode ajudar.

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António Costa

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