1) Como ele costumava dizer, citando Fernando Pessoa, “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. Ele é Álvaro Amaro, ex-presidente da Câmara da Guarda, o homem que sonhou, gerou, começou e executou grande parte desta enorme obra que são os Passadiços do Mondego, porventura a mais visível e promissora realização da Guarda dos últimos tempos.
Não foi ele quem a inaugurou, por ter sido entretanto chamado a abraçar um desafio maior para o país e para a região, que precisam muito de uma voz audível e atuante na Europa, onde presentemente quase tudo se decide. Mas o seu a seu dono. Se há hoje alguém que merece uma palavra de reconhecimento e de gratidão por este notável projeto é mesmo o atual deputado do Parlamento Europeu, que deixa a sua forte e indelével marca num investimento que nos orgulha a todos. Saibam agora este e os próximos executivos – e saberão com toda a certeza – geri-lo e potenciá-lo adequadamente, tornando-o ainda mais atrativo e divulgado. Evitar incêndios na zona envolvente, associar ao percurso outras valências e serviços, e assegurar transporte coletivo, uma espécie de vaivém, no regresso ao início do percurso pelo menos entre os meses de maio e setembro e aos fins de semana no resto do ano (pois não é para todos percorrer toda a sua extensão a pé de ida e volta…) são seguramente receitas para o sucesso continuado desta imponente estrutura pedonal.
Seja como for, os Passadiços já o são, já fazem parte do património da Guarda e já constituem um sólido instrumento de projeção turística do distrito. Vários se empenharam na sua conclusão, menos o Governo, que não “meteu a mão” nisto e ainda bem, pois se o fizesse ainda hoje estaríamos a viver de balelas e de falsas promessas de uma “obra de papel”. Cerca de 4 milhões de euros, em parte cofinanciados a 85% por fundos europeus e na outra parte pelo orçamento municipal, foram, pois, muito bem empregues.
2) Aqui pela Guarda já se dá como certo que o Hotel de Turismo será uma “Pousada de Portugal” gerida pelo Grupo Pestana. Oxalá que assim seja e não há quem não deseje esse ou outro destino sustentável para aquele espaço com história e com memória para a cidade. Mas há quem, como eu, não consiga correr atrás de “foguetes”. A forma como surgiu o anúncio deste investimento tem tudo para nos fazer franzir a testa. É horrivelmente saloio e objeto da maior depreciação que a então secretária de Estado do Turismo, hoje já demitida, tenha combinado um deplorável número de circo com um deputado eleito pelo PS/Guarda a propósito de um assunto tão sério. Um perguntou, candidamente, como estava este imbróglio e a outra, que não tinha grande coisa para dizer, agiu como aqueles vendedores de banha da cobra do século passado, dizendo algo que é igual a nada. Ufana, a senhora falou da suposta aprovação de um contrato de arrendamento a esse grupo empresarial por parte do Turismo de Portugal, dono do edifício.
Não disse, porém, se esse contrato respeita as regras da concorrência, se já obteve a concordância do Ministério das Finanças, se já foi fixado o valor da renda e o prazo do arrendamento, ou se os valores envolvidos neste acordo e na reabilitação do edifício irão ser suportados pelo Estado ou por outra(s) entidade(s) qualquer. Enfim, falou do que ainda não deu à luz… O mais hilariante, mas também vergonhoso, é que por cá o responsável por essa vazia fanfarronice eleitoral, foi o deputado do PS que, com a complacência de “Lisboa”, fez a festa e apanhou as canas, aventurando-se em promessas, dando informações e divulgando negócios que só membros do Governo têm legitimidade para divulgar. Haja decoro. Mas a que titulo um deputado de um distrito, que não tem quota neste Hotel, é a voz de um Governo que não serve e ainda por cima com investimentos que ainda não saíram das intenções?
É certo que foi o PS quem criou o problema, “ao comprar” o imóvel à então Câmara socialista da Guarda e ao boicotar depois a sua venda, já com a secretária de Estado do Turismo da altura – a “guardense” Ana Mendes Godinho – a dois investidores interessados, o que aconteceu apenas porque não quis beneficiar politicamente com esse negócio a Câmara ao tempo liderada pelo PSD. E é natural que agora queira emendar a mão e arrepiar caminho, fazendo o que não foi capaz de fazer em 7 anos. Mas cantar vitória antes do tempo costuma não dar bons resultados.
Então se pensarmos que em tudo o que este Governo PS se meteu aqui na Guarda ainda não se fez nada (Arquivo Geral da Administração Pública, Unidade de Emergência de Proteção e Socorro da GNR, Centro de Prevenção Rodoviária, redução das portagens em 50% e até a reabertura da linha de comboios da Beira Alta em janeiro de 2023), todos temos razões para duvidar de mais esta investida socialista. Ao contrário dos Passadiços, que já o são, o Hotel Turismo parece, mas não é. E é pena…!
* Advogado, ex-deputado do PSD na Assembleia da República e presidente da Assembleia Distrital do PSD da Guarda