Os idosos que vivem isolados são sinalizados. E depois?

Escrito por Jornal O Interior

Ficámos a saber no passado dia 9 que a GNR sinalizou 45.563 idosos a viver sozinhos ou isolados em todo o país, em outubro de 2018, mais 47 que na operação “Censos Sénior” realizada em 2017.
(…) Sabemos também que o país está a envelhecer e com o envelhecimento aumentam o número de idosos a viver sozinhos ou isolados, mas também sabemos que há cada vez menos pessoas a viverem nas aldeias e portanto, se por um lado há idosos a viverem sozinhos, por outro, no futuro, serão cada vez menos. No entanto, ainda não se verifica isso.
Comparando os dados de 2018 com os de 2017 no nosso distrito assistimos ainda assim a um aumento em relação ao ano anterior, em que Guarda foi o distrito com mais idosos sinalizados (3.932) e em 2018 (4.008). Houve um aumento de 76 na sinalização de idosos no distrito da Guarda a viverem sozinhos.
Esta operação anual a que a GNR chamou “Censos Sénior” é de todo importante, não só para a sensibilização da população em geral sobre este fenómeno, como também para as IPSS que desenvolvem as respostas sociais de Serviço de Apoio Domiciliário e Centro de Dia. É importante na medida em que viver sozinho ou isolado não quer dizer que se esteja mais inseguro ou até desprotegido de cuidados. (…) É certo que no distrito da Guarda estão sinalizados este ano 4.008 idosos a viverem sozinhos ou isolados. E depois?
Tão importante como os números apresentados será perguntar em que condições é que estes idosos vivem?
Sabemos e temos conhecimento que há uma grande maioria de pessoas idosas que vivem em pleno seculo XXI sem água canalizada e sem luz. Também sabemos que nas aldeias já não há o minimercado onde se ia fazer algumas compras para comer no dia-a-dia. Também fecharam farmácias nas aldeias, fecharam estações de correio. Já não há nada em certas aldeias onde há 30 anos havia tudo. Hoje em dia há idosos a viverem em péssimas condições habitacionais, mas ninguém os consegue demover de lá. Ninguém os consegue convencer que é necessário ter água canalizada ou luz elétrica.

Mais do que números e estatísticas é preciso trabalhar em parceria. Encontrar formas e soluções em conjunto. A própria CCDRC e as Câmaras Municipais devem investir mais em programas que contribuam para melhorar as condições habitacionais dos idosos, pelo menos daqueles que aceitem ser ajudados.
Não basta dizer que estão sinalizados é preciso saber se estão a ter apoio de alguma Instituição, se a GNR sinaliza os casos mais graves à Segurança Social ou IPSS das zonas onde vivem. Se a GNR faz essa sensibilização quando visita os idosos nas suas casas, informando-os que podem ter apoio diário (sete vezes por semana) em suas casas através de refeições, limpeza de casa, lavandaria, controlo da toma da medicação, acompanhamento a consultas médicas por parte das instituições de solidariedade social locais. Se alguma vez já pediram esse apoio? Entre outras questões que a própria GNR pode colocar aos idosos nas visitas “esporádicas” que lhes faz.
A importância deste estudo é fundamental, no entanto as pessoas, os idosos mais vulneráveis, não querem saber de estatística para nada, querem é quem os ajude no dia-a-dia e isso devidamente trabalhado em parceria entre a GNR e as IPSS que prestam os serviços de apoio domiciliário e os centros de dia. (…) Sabemos por experiência própria que há muitos idosos a viverem sozinhos que não aceitam ajuda de ninguém (…). Também podemos dar como exemplo um programa da Segurança Social, realizado há uns 15 anos e denominado PCHI (Programa Conforto Habitacional para Pessoas Idosas), em que, entre outras obras de beneficiação das habitações dos idosos, foram feitas casas de banho onde não havia. Pensava-se que se estaria a melhorar as condições de vida daqueles idosos. Passados uns meses uma equipa da coordenação do programa visitou alguns desses locais e encontraram as casas de banho sem uso.
Quero com isto dizer que as vivências das pessoas que hoje são idosas não foram as nossas vivências. Queremos o melhor para os “nossos” idosos. (…) No entanto, a maior dificuldade está na maioria das vezes no idoso querer aceitar essa ajuda. (…) Essa sim é a principal dificuldade porque hoje em dia um idoso só não é ajudado se não quiser.
O Serviço de Apoio Domiciliário é, na maioria das vezes, a família destes idosos, de quem vive sozinho e isolado, mas que aceita ajuda das Instituições e é essa sensibilização que a GNR, por exemplo, também deve fazer quando visita os idosos desprovidos de qualquer ajuda institucional.
Quando assim for, quando o trabalho for em parceria (GNR, Segurança Social e IPSS), não tenho dúvidas que os idosos viverão sozinhos, isolados, mas mais felizes.

Luis António Silva, assistente social

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Jornal O Interior

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