Os humanos estão por desvendar

Escrito por Diogo Cabrita

Gisèle casou com Dominique Pelicot e acabaram odiando-se. O mundo sabe que Dominique foi um canalha abusivo, violador, construtor de uma anormalidade inominável. Dominique entregava a sua mulher, drogada e inconsciente, ao abuso de outros. Nunca vou entender nesta história o que leva um marido a servir a mulher a outros que a tomam dormida.
Surgem-me inúmeras questões: ele odiava-a tanto assim? Ela nunca se apercebeu de nada durante tantos anos? Ela não sentia de manhã os cheiros ou as alterações corporais acontecidas com o coito? Julgava que era ele? Eles, arrebanhados pela Internet, encontravam prazer numa mulher inconsciente? Eles, alguns com família também, aceitavam realizar vídeos para um desconhecido? Ele vendia esta perversão aos outros? Recrutava-os para a sua tara sexual? Era uma doença do comportamento? Uma doença do afeto? Uma vingança? Há muitas questões possíveis nesta tragédia onde Gisèle e a filha parecem ser as grandes vítimas.
O julgamento público, sem máscaras, sem vergonha que Gisèle Pelicot impôs aos abusadores foi uma profunda estocada no mal. Continuo sem perceber porque surgem estas distorções mentais que condicionam “serial killers”, ciúmes patológicos graves, assassinatos de opositores, torturas banalizadas. Os humanos são realmente perversos e a sua criatividade parece estar na origem destas alterações comportamentais. Uma criatividade maligna condiciona os atos não cívicos que nos descrevem as televisões em festins de audiência despudorada. Quanto maior a perversidade mais a exposição mediática. Na realidade, dois pilares servem de sustentáculo a gente doente como Dominique. Uma é a sua imaginação. Outra é a sua insaciedade no que concerne à perversão. E de tudo isto o cérebro humano está por desvendar. Estas são causas para podermos afirmar que, do ponto de vista científico, estamos longe do lugar em que julgamos estar.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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