Tendo em conta que uma espécie se caracteriza por uma estrutura genética bem definida, a introdução, numa população, de genes pertencentes a uma população diferente, conhecido como hibridação, nem sempre origina uma descendência estável e fértil e, por conseguinte, uma nova espécie.
Muitos híbridos são, na realidade, estéreis. Uma mula, por exemplo, é um híbrido estéril criado pelo cruzamento de um burro (“Equus asinus”) e uma égua (“Equus caballus”), ou seja, duas espécies diferentes pertencentes ao mesmo género “Equus”. Em contrapartida, o lobo vermelho (“Canis rufus”) é uma espécie criada pela hibridação entre o lobo (“Canis lupus”) e o coiote (“Canis latrans”), que remonta a 150.000/ 300.000 anos. A hibridação natural, ou seja, não mediada por humanos, desempenhou um papel decisivo na evolução de muitas formas vivas, sobretudo plantas.
O trigo, uma das plantas mais importantes cultivadas pela humanidade, surgiu há milhares de anos em resultado da hibridação entre espécies diferentes de plantas. O pão é preparado com trigo mole, o trigo comum (“Triticum aestivum”), que deriva da hibridação entre o trigo duro (“Triticum turgidum”) e “Aegilops tauschii”, uma erva silvestre que cresce nos campos. O trigo duro, normalmente utilizado para preparar massa, deriva por seu turno da hibridação entre o “Triticum urartu” e uma espécie de cereal ainda não identificada.
A hibridação sucede também no reino animal, embora mais raramente e, com frequência, com a mediação humana. Kekaimalu é o nome do primeiro exemplar fértil nascido da união de uma fêmea de golfinho-roaz (“Tursiops truncatus”) e um macho de falsa-orca (“Pseudorca crassidens”), que partilhavam a mesma piscina num parque aquático no Havai. Também o “ligre”, criado pelo cruzamento entre um leão e a fêmea do tigre, e o “tigão”, criado pelo cruzamento entre um tigre macho e uma leoa, são híbridos documentados. Embora os exemplares machos de “ligre” e “tigão” sejam estéreis, as fêmeas são férteis. Entre 2012 e 2013, o ligre Zita e o leão Samson, habitantes do zoo de Novosibirsk, na Rússia, deram vida à primeira geração de exemplares de “liligre”.
No genoma humano, estão também presentes sinais da hibridação. Estudos recentes evidenciaram traços genéticos do extinto “Homo neanderthalensis” no ADN recuperado de ossos do “Homo sapiens”, de há cerca de 40.000 anos, durante a expansão a Eurásia. Entre 1 e 3% do genoma humano moderno contêm vestígios do ADN neandertal.
Os híbridos: Organismos Geneticamente Modificados naturais
“A hibridação sucede também no reino animal, embora mais raramente e, com frequência, com a mediação humana.”