Os deputados

Escrito por Diogo Cabrita

“A perpetuação de muitas ilegalidades deve-se ao rabo sentado de muitos dos eleitos pelo povo para os representar. “

«Os deputados gozam do direito de livre-trânsito, considerado como livre circulação em locais públicos de acesso condicionado, mediante exibição do cartão de deputado. Têm direito a passaporte diplomático por legislatura, renovado em cada sessão legislativa e cartão de deputado». (https://www.parlamento.pt/DeputadoGP/Paginas/PoderesDireitosDeveresDeputados.aspx)
Esta é a revolução mais extraordinária que os deputados podiam fazer e nunca foi feita. Um deputado pode chegar a um hospital e exigir entrar e verificar in loco o que se está a passar na instituição. O seu mandato é o voto legítimo do povo e a sua representação é a garantia da democracia. Os deputados podem entrar quando e à hora que quiserem num presídio e verificar os dados tremendos que a DGRSP publica sem medo e sem sessar, sobre a verdade das cadeias.
Estive num evento da Organização Mundial de Saúde, que decorreu a 15 e 16 de fevereiro, em representação da APAR, onde se falou do relatório https://www.who.int/europe/news-room/events/item/2023/02/15/default-calendar/launch-of-status-report-on-prison-health-in-the-who-european-region-2022.
Os deputados se procedessem à visita sem aviso prévio de muitas instituições eram um garante da democracia. O exercício desta ação surpreenderia os absentistas, os que se acham acima da lei, os que impõem regras antidemocráticas nos lugares onde foram colocados para gerir. Os deputados não são vigilantes, não são empresas de avaliação e certificação, mas têm o direito de ir ver, irromper e ser testemunhas da coisa pública.
Por esta razão os deputados podiam ser muitos mais, contrariamente ao que afirma alguma demagogia. Um deputado que fosse à porta do Estabelecimento Prisional de Lisboa, pedisse para entrar, descobria que é mentira que temos 12 mil celas para cumprir as penas de privação de liberdade. Temos é celas para um declaradas para três, o que é uma manifesta aldrabice que surge em relatórios exaustivamente repetidos.
Um eleitor pediria a um deputado que fosse ver como o estão a tratar na CP, ou na Brisa, e o gesto de aparecer faria diferença porque os cobardes temem a autoridade, os velhacos temem as consequências dos seus atropelos. A perpetuação de muitas ilegalidades deve-se ao rabo sentado de muitos dos eleitos pelo povo para os representar. Num país onde a certificação é sinónimo de compadrio e atualmente de negócio, onde a auditoria é sinónimo de simpatia e ganhos secundários, onde a palavra vigiar é feia, avaliar chefias é mal interpretado, só uma ação individual pode alterar as coisas. Desafio os deputados do CHEGA a percorrerem as cadeias de Portugal. Desafio-os a levarem colegas do PCP e depois fazerem um documento menos demagógico sobre o que é preciso mudar na justiça portuguesa. O documento de 500 páginas está bem feito e compõem-se dos dados que são feitos chegar aos relatores, o problema é quando os dados não são exatamente aquilo que a observação direta demonstraria.
Recordem sempre que Mandela esteve preso 28 anos. Recordem que todos podemos ir parar a um presídio.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

Leave a Reply