Olha a bola, Marčiukas

«Os jogos de Portugal na fase de grupos tiveram a curiosa particularidade de serem jogados contra as selecções de dois dos países onde há mais emigração portuguesa»

Neste Europeu de futebol tem havido jogos engraçados do ponto de vista geoestratégico. Um dos mais interessantes foi o Áustria-Ucrânia, um jogo que deixaria tanto Estaline como Hitler perplexos e furiosos. A não ser que se estivesse a jogar um torneio de regiões.
Outro, por referências pessoais cruzadas, foi o Espanha-Polónia, um embate entre as duas nações imperiais que em determinados momentos da história partilharam as coroas com Portugal e Lituânia.
Os jogos de Portugal na fase de grupos tiveram a curiosa particularidade de serem jogados contra as selecções de dois dos países onde há mais emigração portuguesa e outro contra a Hungria, que tem o governo menos simpático para emigrantes de toda a União Europeia.
O Europeu de futebol desperta poucas emoções na cidade de Vilnius. Pelo contrário, a Eurovisão foi um acontecimento nacional. Para os lituanos, a obtenção de um bom lugar no final do Festival Europeu da Canção é mais importante do que a obtenção de um cheque da Comissão Europeia.
Apesar de todos os jogos serem transmitidos em canal aberto, não há muitos lugares públicos onde os jogos possam ser vistos, e mesmo quando alguma esplanada tem a emissão ligada, a assistência é limitada a meia dúzia de estrangeiros e a um ou outro lituano amigo desses estrangeiros.
Os lituanos tendem a fingir-se adeptos das selecções de futebol dos amigos. Mas não se julgue que é simpatia despreocupada. É apenas por falta de comparência. No desporto nacional, o basquetebol, já não há lugar para amiguismos.
A Lituânia apresenta uma muito peculiar forma de sincretismo. Mistura as tradições folclóricas dos rituais pagãos das tribos bálticas com o catolicismo trazido no século XIII e um fervor evangélico com que assiste ao basquetebol.

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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